quarta-feira, 7 de outubro de 2015



07 de outubro de 2015 | N° 18317 
FÁBIO PRIKLADNICKI

FALANDO DE GÊNERO


Há 10 anos, quando comecei a ler sobre teorias de gênero para a seleção do mestrado, não imaginava que o assunto se tornaria, hoje, mais relevante do que nunca. Precisamos falar sobre gênero. Mas o que vemos na arena pública é um movimento inverso: a discussão sobre o tema está sendo sufocada. É o que fazem setores conservadores ao criticar o que definem como “ideologia de gênero”. 

Não está muito claro o que querem dizer com essa expressão escorregadia, mas me parece que está por trás disso um medo de que sexualidades diferentes da norma hétero possam ameaçar o reinado da família nuclear chefiada por um homem e uma mulher. Em defesa dessa ideia, lançam o argumento de que Deus quer assim ou assado. Mas quem tem autoridade para falar em nome de Deus?

O que é propalado como “ideologia de gênero”, a meu ver, é uma visão equivocada sobre a diversidade. Como se sabe, “ideologia” é uma palavra que costumamos atribuir aos nossos adversários, nunca a nós mesmos. É como se o interlocutor dissesse: “Meu discurso é verdadeiro, mas o discurso de quem discorda de mim é distorcido pela ideologia”. Diferentes teóricos da cultura demonstraram que, na verdade, somos todos perpassados por ideologias. 

Todos veem o mundo por meio de uma lente, que tem a ver com sua formação, o meio em que vive, as leituras que realiza e assim por diante. Quem defende a supressão do debate sobre gênero dos planos de educação pública não está fazendo nada diferente do que impor sua própria “ideologia de gênero”. Queiram ou não, o assunto está em todas as relações sociais, inclusive onde menos se espera. Quando garotos satirizam a sexualidade do colega que faz balé, estão construindo socialmente um conceito hegemônico sobre o que é ser homem.

A perversidade do lobby contra o debate de gênero é que contribui diretamente para o aumento da violência contra a comunidade LGBT. O ódio começa no discurso. Não é uma coincidência que notícias de agressões e mortes apareçam sistematicamente nos meios de comunicação. É uma questão humanitária, que não deveria ser submetida a dogmas. Estamos falando de políticas públicas.

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