domingo, 31 de maio de 2015

A porta dos fundos
Arnaldo Jabor

biquini
Chega de política. Vou falar de sexo. Antes, havia a “sexpol”, bandeira da política sexual dos anos 1960. Hoje, temos no máximo a “polsex”, ou seja, como as ideologias dançaram, só a sexualidade explica muitos rumos do mundo e, claro, do Brasil, nosso grande motel das ilusões perdidas. Na verdade, falarei só sobre uma parte muito importante da sexualidade: a bunda.
Há um tempo, escreveram na internet um artigo com meu nome, onde meu “falso eu” dizia que mulher não precisa ter bunda dura e que as celulites eram bem-vindas. Na rua, veio uma senhora toda contente e me declarou: “Eu tenho bunda mole!” e saiu sorridente pelo artigo que eu “não” escrevi. Por isso, escrevo hoje sobre a “bunda”, a famosa “preferência nacional”, um dos poucos monumentos culturais que ainda nos restam. Por isso, e para esquecer nossa pornô-política, escrevo, como um apócrifo de mim mesmo.
Vamos a isso. Visto de frente, o Brasil anda para trás, parece um ex-Brasil. Por isso, vou olhar pela porta dos fundos: a bunda. A palavra já soa imprópria, obscena, já trás um adjetivo acoplado. Por isso, desculpem-me os leitores, mas a palavra “bunda” é a única de que dispomos. Temos eufemismos com “nádegas”, doces apelidos como bumbum, mas o termo que usamos na vida diária é bunda mesmo, com a ressonância africana dos “bundos”, de onde vieram as vênus negras que nos miscigenaram.
Abunda não começou no descobrimento do Brasil; as índias, apesar de “oferecidas”, não as tinham avolumadas, mas escorridas “em pêra”, barrigudinhas e frágeis. A bunda começou nas senzalas com senhores inflamados pelas negras, longe do tédio das sinhás.
Há uma espantosa separação entre a bunda e a dona da bunda. A bunda fica mais importante do que sua dona. Conheci uma moça que ficou meio paranoica por causa do lindo rabinho que portava. Quando conversávamos não era a ela que servíamos, mas a “outra”. Ela vivia com ciúmes de si mesma, e sua bundinha parecia dizer: “prestem atenção nela; ela também é gente…”.
Reparem que as mulheres de bunda bonita, mesmo quando estão de frente, estão de costas para nossos olhos. As mulheres de frente são mais inquietantes, porque são “sujeitos” com rosto e alma. Já as mulheres de costas aparentam um caráter mais passivo, mais “objetal” diriam os filósofos.
O desejo pelas costas é a defesa contra os perigos da vulva. A bunda é estéril; não inquieta como a vagina e seu mistério profundo. A bunda não procria – muito pelo contrário. Eu já vi belas bundinhas no passado, nas areias de Ipanema e elas tinham uma florescência espontânea, inocente. Naquele tempo, não havia muito estímulo à punhetinha; raras eram as revistas pornográficas. Hoje, tanta oferta sexual nos causa angústia, mostra que nosso desejo é programado por indústrias masturbatórias, provocando tesão para vender satisfação.
Nunca vimos tanta publicidade movida a sexo. A propaganda nos promete uma suruba transcendental. Em nenhum lugar do mundo vemos esse apelo sexual nas ruas, nas roupas das meninas. Nosso feminismo resultou nisso. Quase todos os outdoors são de mulher nua. Outro dia, quase bati o carro, por causa de um cartaz com uma lourinha nua da “Playboy”.
Hoje sexo é uma imagem farta e colorida. Na época, punheta era literatura; para nos excitar tínhamos de imaginar complicadas tramas de suspense com estrutura de filme policial e o que acendia o desejo eram justamente os obstáculos a vencer até a satisfação final.
Babávamos sim diante das vedetes do teatro rebolado, de Angelita Martinez, de Carmen Veronica, Luz del Fuego, mas elas eram pessoas verídicas, inteiras, e sua nudez tinha algo de transgressivo, de liberdade e luta. Hoje, as mulheres travam uma competição frenética de bundas e seios e eu me pergunto: O que querem elas provar? Querem nos levar para o fundo do mar como sereias, querem destruir os lares, querem mostrar que o sexo sem limites resolverá os problemas do Brasil?
E agora, nesses tempos sinistros, surgiu a bunda industrial. Ela fatura milhões para as revistas de sacanagem. Elas programam nosso desejo e limitam a imaginação criadora dos praticantes do vício solitário, como chamavam os padres no confessionário.
A bunda virou um instrumento de ascensão social. Mesmo nossas meninas mais românticas, sonhando com casamento e filhos, são obrigadas a rebolados cada vez mais desbragados. Milhões de menininhas pelos grotões do País, se olham no espelho e pensam: “vou subir na vida”. A bunda é um capital. A pessoa não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele.
O corpo e a pessoa são duas coisas diferentes; a menina mostra sua bunda como se fosse uma irmã siamesa. Agora, com o surgimento da bunda digital na internet, a bunda perdeu aquela aura de objeto único, “erguida no altar de nosso desejo” (arggh!). Viraram bundas em streaming, olhadas com tédio por nossos garotos, como um videogame superado. Depois da bunda, o que virá, já que a indústria cultural pede sempre mais? Ânus luminosos, entranhas profundas, o avesso do corpo?
No século 21, nasce a bunda distópica, a “pós bunda”, pela fragmentação do desejo. Desejamos as partes, mas tememos o conjunto. O chamado “objeto total” de Melanie Klein (aquela mulher sem bunda e com seios enormes) foi substituído pelo objeto perverso, parcial, deliciosamente irresponsável, “da ordem do demônio”, ao contrário dos seios, “objetos de Deus”.
Hoje, com a sonda cósmica pousando em cometa, com robôs capinando em Marte, em meio à crise mundial, nós olhamos a bunda: a porta dos fundos, a entrada de serviço, em que talvez fiquemos para sempre. A bunda é nosso destino histórico.

Avião da Azul que saiu de São Paulo com destino ao Salgado Filho foi parar em Canoas

Pouso de emergência na base aérea ocorreu devido a problemas técnicos.
Jackson Ciceri / O SulPouso de emergência na base aérea ocorreu devido a problemas técnicos. Jackson Ciceri / O Sul
O voo 2916, da companhia Azul, fez um pouso de emergência na Base Aérea de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, por volta das 23h30min de sexta-feira. O avião, que havia decolado de São Paulo (SP) para o Aeroporto Internacional Salgado Filho, na capital gaúcha, apresentou problemas técnicos minutos antes de chegar ao destino. Bombeiros e ambulâncias aguardavam os passageiros na pista. Apesar do susto, ninguém ficou ferido.
Por meio de nota, divulgada nesse sábado, a companhia lamentou o ocorrido e disse que está prestando assistência aos clientes. “A Azul Linhas Aéreas Brasileiras informa que a aeronave que fazia o voo 2916, com origem em Congonhas e destino Porto Alegre, na noite de sexta-feira, registrou um problema de ordem técnica e precisou alternar a rota para o aeroporto da cidade de Canoas. A companhia está prestando toda assistência necessária a seus clientes de acordo com a resolução 141 da Agência Nacional de Aviação Civil. A Azul lamenta eventuais transtornos e ressalta que medidas como essas são necessárias para conferir a segurança de suas operações”.
Caso parecido
Essa não foi a primeira vez que um avião da empresa foi obrigado a fazer um pouso de emergência na base de Canoas. Em 19 de janeiro, uma aeronave também apresentou um problema técnico e teve de pousar emergencialmente na cidade. O voo havia saído de Minas Gerais.

“Me irrita”, diz Cleo Pires sobre guinada conservadora em “Babilônia”

"Acho louco que alguém vá transformar a própria obra por causa disso. Isso é bater palma pra maluco dançar. E isso me irrita", afirmou Cleo Pires (Foto: Reprodução)"Acho louco que alguém vá transformar a própria obra por causa disso. Isso é bater palma pra maluco dançar. E isso me irrita", afirmou Cleo Pires (Foto: Reprodução)
Cleo Pires abriu falou sobre sobre a rejeição do público a “Babilônia”, da TV Globo,  que chegou a sofrer “boicote”  incentivado por pastores evangélicos em razão das cenas do casal homossexual vivido pelas atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. “É mentalidade de gado”, disparou a atriz, que namora o ator Rômulo Neto.
A mudança na trama, que diminuiu as cenas com casais gays e fez com que a personagem da mãe, Gloria Pires, a Beatriz do folhetim,  parasse de seduzir homens em série, é ainda pior para a morena. “Acho louco que alguém vá transformar a própria obra por causa disso. Isso é bater palma para maluco dançar. E isso me irrita. Não é bacana reprimir um trabalho que não está fazendo mal a ninguém.”
Cleo reserva contou ainda que 10% de todo seu dinheiro para projetos sociais e afirma que se envolve diretamente com as causas. Após ir a Cabo Verde, na África,  criou um projeto de melhoria do abastecimento de água nas escolas de uma região do país.  “Tenho um pouco de pudor de falar dessas coisas. É um desafio para mim, porque eu não quero parecer a boazinha”, afirmou (Folhapress)

Brooke Shields completa 50 anos e continua linda

Americana estreou na TV ainda criança, cresceu em frente às câmeras e virou ícone de beleza (Foto: Reprodução)Americana estreou na TV ainda criança, cresceu em frente às câmeras e virou ícone de beleza (Foto: Reprodução)
Brooke Shields tem muito o que festejar neste domingo (31). A estrela de mais de 45 filmes, seriados e documentários de TV completa 50 anos de idade. A loira, que ganhou fama mundial na produção “A Lagoa Azul” na década de 1980, é um dos ícones de beleza para as mulheres mundo afora. Apesar das temidas ruguinhas e linhas de expressão, Brooke já contou que recorreu ao botox para manter a pele viçosa. Mas como não gostou do resultado, resolveu aceitar o envelhecimento natural. “Não tem como mudar certas coisas. A maneira mais fácil para ser feliz é se aceitar, encarar o espelho e ter orgulho de quem se tornou”, declarou ela.
No entanto, é claro que Brooke mantém uma rotina de beleza. Além de recorrer às máscaras e aos protetores solares, ela diariamente limpa, tonifica e hidrata o rosto e o corpo com produtos realmente potentes.
Para manter-se em forma, a estrela de Hollywood, que tem 1,83 metro de altura, não deixa de lado a malhação. Uma hora do seu dia é dedica a prática de exercícios físicos. Mesmo no inverno rigoroso dos Estados Unidos, Brooke coloca seu tênis, veste conjuntinho fitness e vai para a academia praticar musculação e corrida na esteira. No verão, é no mar que ela busca diversão. Sua nova paixão é a prática de surf em um prancha de “longboard”. “O treino me ajuda a combater o estresse. Eu corro e me esgoto fisicamente, então fico cansada demais para estar tensa, o que reflete na minha saúde e beleza”, afirmou.
Adepta do suco verde pela manhã, Brooke costuma compartilhar fotos de suas refeições saudáveis nas redes sociais para incentivar fãs e seguidores. Entre as dicas da beldade está a ingestão de pelo menos dois litros de água por dia e dieta rica em folhas verdes e frutas, principalmente as vermelhas que são ricas em antioxidante. Quando quer perder peso, ela corta radicalmente os carboidratos. E se a vontade de comer doce aparece, ataca potes de gelatina, que ajudam na elasticidade da pele. Ela evita ao máximo produtos industrializados também. Truques simples e eficazes.

Miranda July diz que não se sente confortável com o marido e filho

Flavio Scorsato
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A cabeleira etérea de Miranda July me distrai. Quanto tempo ela passa no espelho para conseguir este visual delicadamente armado? Passa pó de arroz no rosto para deixar os olhos claros ainda mais em evidência? "Que jardim incrível", elogio, para quebrar o silêncio, enquanto entro em seu escritório, numa casa simples com panos brancos cobrindo as janelas. "Tenho um jardineiro que vem de vez em quando. É um sem-teto que mora pelo bairro", ela conta.

Como? O jardineiro misterioso do seu livro "O Primeiro Homem Mau" é de verdade? Procuro caramujos pelo chão de taquinhos, como os que tomam conta da sala da protagonista, mas ela me puxa para a realidade: "Não é como no livro. O que vem aqui é um morador de rua de verdade".

O universo de Miranda July, 41, se esconde e se revela em seus trabalhos. Imagino que, no meio de seus cachinhos, morem seus amigos imaginários e personagens esquisitões, todos prestes a saltar em seus filmes, contos e performances. Miranda é uma artista que não se deixa definir por uma plataforma.

Flavio Scorsato
A mais recente é sua estreia no romance de ficção, "O Primeiro Homem Mau" (sai em junho pela Companhia das Letras), no qual aborda temas recorrentes em suas obras, como solidão e devaneios sexuais, mas, desta vez, de forma tão profunda que as criações parecem mais reais do que nunca.
A narradora é Cheryl, uma mulher solitária que tem sua rotina balançada com a chegada a sua casa de uma hóspede loira e gostosona de 20 anos, Clee. Um mix violento de repulsa e atração norteia a relação das duas, e Cheryl acaba sumindo de suas próprias fantasias e trazendo Clee em sua imaginação.

"Sempre tenho esses pensamentos sobre as pessoas pelas quais sinto atração: 'De que tipo de mulher será que ele gosta?', 'Como será que ele faria sexo com ela?' Talvez seja apenas eu, mas não acho difícil entrar nesse jogo", diz a autora, casada desde 2009 com o diretor Mike Mills ("Toda Forma de Amor", 2010). "Homens, mulheres e crianças fantasiam sobre ser homens, mulheres e crianças, e até animais, quando isso funciona na busca de excitação."
Sexo, para ela, é um território sem fronteiras. "É muito fácil ser original no sexo porque é sempre a mesma coisa sendo repetida. É só sair um pouco do caminho de sempre e, uau!, você está numa terra nova. É quase
como trapacear."


A autora começou a escrever "O Primeiro Homem Mau" quando estava grávida de seu único filho, Hopper, 3, e o concluiu três anos depois. No livro, há um bebê misterioso que ressurge de tempos em tempos, Kubelko Bondy, e outro bem real, que aparece quando a história desacelera e embarca nos temas do amor e da maternidade. Toda a ideia do livro veio antes da gravidez, como um "presente para a Miranda do futuro", diz.

"Quando estava grávida, não tinha nada a dizer sobre o bebê, então o primeiro rascunho do livro estava bem fraco nessa área, mas nem me incomodei", comenta, sempre gesticulando os braços magrinhos e cheia de sorrisos.

Flavio Scorsato
"Hoje poderia escrever uns seis volumes sobre o tema. Mas, no final, há poucas coisas no livro que não poderia ter escrito se não tivesse o bebê. A maioria é sobre o tom de ser mãe, uma coisa muito difícil de falsificar."

INTÉRPRETE DE SI MESMA

Mas Cheryl não é Miranda. E ela se sente aliviada por não precisar levar a personagem ao cinema e interpretá-la, como faz nos filmes que dirige. "Foi libertador escrever sobre alguém diferente de mim. A pior parte dos meus filmes foi atuar. Não gostava das personagens."

Miranda, que cresceu em Berkeley (Califórnia) e largou a faculdade para fazer curtas e performances em Portland (Oregon) nos anos 1990, lançou em 2005 seu primeiro longa, "Eu, Você e Todos Nós", premiado em Cannes e Sundance. Ela interpretava uma artista plástica excêntrica e solitária com dificuldades para se relacionar com um vendedor de sapatos recém-separado.
Seis anos depois, após um intervalo para escrever um elogiado livro de contos, "É Claro que Você Sabe do que Estou Falando" (ed. Agir, 2008), e criar esculturas interativas para a Bienal de Veneza, Miranda estreou seu segundo filme, "O Futuro" (2011), no papel de uma dançarina medíocre.

"Não sinto que haja um mundo do qual eu faça parte secretamente", ela diz, ao ser questionada sobre onde se sente melhor entre seus pares, como escritora, diretora ou artista plástica. "A maior parte do tempo sou eu aqui sozinha, fazendo coisas em mídias diferentes, às vezes três projetos no mesmo dia. Meus amigos são escritores, diretores, artistas, mas não são radicalmente diferentes entre si. A maioria é um bando de mulheres espertas."

Lidar com as indústrias do cinema e do livro é, sem dúvida, bem diferente. "No cinema, as equipes são famosas por serem muito eficientes, trabalham juntas para fazer algo rápido e com qualidade. Nas editoras, o processo é mais intelectual e muito lento", diz.
Flavio Scorsato
TEM ALGUÉM AÍ?
Miranda aderiu a uma nova plataforma recentemente, ao criar e ajudar a construir o aplicativo de celular "Somebody" (grátis para iOS e Android), um projeto de arte que mistura serviço de mensagens e performance.


Funciona assim: você pode mandar mensagens para amigos dos quais tem o número de celular e que estejam cadastrados no programa. Quando alguém estiver perto de seu amigo, o aplicativo pergunta se ele pode entregar o recado pessoalmente. E lá vai o "somebody" ("alguém"), como um correio-elegante. Mesmo usando outra mídia, ela consegue explorar um de seus temas recorrentes: a obsessão por desconhecidos.


"Pessoalmente, não quero nada com estranhos, mas eles são uma grande fonte de inspiração. Não me sinto confortável com ninguém, nem com meu marido e meu filho", diz. "Amo os dois, mas há uma razão em ter uma casa inteira como escritório para ficar sozinha. Meu interesse por pessoas não é algo fofinho, e sim uma curiosidade desconfortável."

Miranda já entregou umas dez mensagens por meio de seu aplicativo, e um desconhecido já entrou em seu escritório sem bater para passar um recado. "É um jogo delicado, para ser jogado no espaço público. As pessoas não querem entregar mensagens bobinhas, e sim propostas de casamento, coisas assim."

A rapidez da tecnologia para criar "Somebody" fez livros e filmes parecerem lentos, e a artista usa o que aprendeu com o aplicativo em sua nova performance. "New Society" investiga como grupos são formados e desfeitos, usando interação com o público. "Toda semana mostro uma versão para uma plateia."

Seu próximo passo é voltar ao cinema. Ela trabalha num novo roteiro e recusou o convite para ir à Festa Literária Internacional de Paraty porque usará o mês de julho para escrever. "Quero entregar a primeira versão em agosto", diz, sem dar detalhes da trama. "Agora, tenho essas pessoas habitando minha cabeça, é reconfortante. Toda vez que não sei o que fazer com minha mente, penso nesse novo mundo." 

sábado, 30 de maio de 2015

Família, empresa e governo cortam despesas e derrubam economia

21300
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Sob a pressão dos preços, das dívidas e das incertezas em alta, famílias, empresas e governo cortaram despesas ao mesmo tempo e derrubaram a economia do país.
Medida da produção e da renda nacional, o PIB (Produto Interno Bruto) encolheu 0,2% no primeiro trimestre do ano, na comparação com os últimos três meses de 2014, conforme dados divulgados nesta sexta (29).

A taxa não foi tão ruim quanto se temia –os cálculos do Banco Central, por exemplo, apontavam uma queda de 0,8%. É o detalhamento dos dados, no entanto, que mostra a extensão dos danos.
Numa rara combinação, as compras de bens e serviços despencaram em todas as modalidades: para consumo, para investimentos e para o custeio do governo federal, dos Estados e das cidades.

Ainda mais anômala é a coexistência de uma recessão em andamento, com queda de empregos e salários, e a inflação mais elevada desde 2003 –trata-se, em uma palavra, da estagflação, na versão mais evidente em 12 anos.

PIB

-0,2
-1
1
1,9
1º.tri.2010
1,5
2º.tri.2010
1,1
3º.tri.2010
1,2
4º.tri.2010
0,8
1º.tri.2011
1,9
2º.tri.2011
-0,5
3º.tri.2011
0,3
4º.tri.2011
0,2
1º.tri.2012
0,4
2º.tri.2012
1,3
3º.tri.2012
0,4
4º.tri.2012
0,8
1º.tri.2013
1,2
2º.tri.2013
0,1
3º.tri.2013
0,0
4º.tri.2013
0,7
1º.tri.2014
-1,4
2º.tri.2014
0,2
3º.tri.2014
0,3
4º.tri.2014
-0,2
1º.tri.2015

A expansão contínua dos gastos públicos nos últimos anos elevou a dívida pública, alimentou a inflação e minou a confiança de empreendedores e consumidores.
Os ajustes de agora incluem bloqueio de despesas, aumento de impostos, de tarifas públicas e de juros. Em outras palavras, o governo é obrigado a deprimir ainda mais uma economia já prostrada –e que ainda não chegou ao fundo do poço.

Os números de hoje não são, ao menos por enquanto, tão ruins quanto os da recessão anterior, na virada de 2008 para 2009. Naquele período de agravamento da crise internacional, o PIB teve quedas trimestrais de 4,1% e 2,2% em sequência.
Mas as alternativas da política econômica eram, então, mais simples: a inflação, como costuma acontecer, entrou em trajetória de queda com a freada do comércio, permitindo ao governo reduzir juros, conceder incentivos tributários e elevar gastos para reanimar o mercado.


Já a estratégia atual se limita a esperar que, mais à frente, o ajuste fiscal e o controle da inflação restabeleçam a confiança de empresas e famílias no futuro.