quarta-feira, 26 de maio de 2010



26 de maio de 2010 | N° 16347
PAULO SANT’ANA


O drama da saúde dos sem-voz

Eu não descanso enquanto não se solucionar o problema da saúde pública entre nós.

Os governantes têm de se render à ideia de que é o nosso maior e mais dramático problema.

E a grande multidão de pessoas que apodrecem nas filas não tem voz. Por isso é que de alguma forma quero emprestar proveito social ao espaço que disponho em Zero Hora.

Para se ter uma ideia do que o povo sofre com o abandono a que foi relegado em saúde, leiam o relato de dois leitores.

Primeiro, o do médico sanitarista e ex-secretário da Saúde de Porto Alegre Lúcio Barcelos:

“Prezado Sant’Ana, meus parabéns pela tua coluna de hoje. Estou de pleno acordo com a caracterização de ‘vergonhosa’ que dás para as ‘filas’ das cirurgias eletivas. É patético, mas um cidadão, para conseguir uma simples cirurgia de varizes, que deveria ser para o dia seguinte, fica numa ‘fila’ de espera de dois, três ou até quatro anos.

O que dizer de uma cirurgia de alta complexidade, de um exame laboratorial mais complexo, ou das filas reais, do cotidiano das pessoas que se amontoam na frente das unidades de saúde em plena madrugada para conseguir uma simples consulta com um clínico geral. Não é preciso dizer que são pessoas pobres, em geral idosas ou mulheres com crianças de colo. É um desrespeito absoluto com os direitos mais elementares de qualquer cidadão.

Agora, se me permites complementar teu raciocínio, acho que devemos nos perguntar por que existe essa escassez de profissionais, equipamentos e leitos.

Certamente não é por falta de recursos financeiros: juntos, a União, os governos estaduais e municipais, nos primeiros quatro meses e 24 dias deste ano da graça de 2010, já arrecadaram a fabulosa quantia de R$ 472 bilhões em impostos. É isso mesmo! R$ 472 bilhões em impostos pagos pela população que trabalha. E vem me dizer que não pode resolver o problema das filas reais ou virtuais da saúde pública?”.

“Caro Sant’Ana. Finalmente alguém fala pelo povo. A fila do SUS só é sentida pelo pobre. Sou médico psiquiatra e trabalho em Alvorada, quis escrever porque não é apenas para a cirurgia que há filas.

Vou usar um pequeno exemplo: uma pessoa com dor de cabeça que quer consultar pelo SUS, primeiro, para conseguir uma simples consulta com um clínico geral, e não apenas com a enfermeira, que muitas vezes é a única a ver o paciente, ele terá que chegar ao posto às 5h da manhã para tentar ser atendido no mesmo dia, e a consulta não será antes das 14h.

Se o sujeito precisar de um neurologista porque sua dor de cabeça preocupou o médico clínico (ou seja, pode ser um caso grave), ele esperará mais de um ano pela consulta. E se o neurologista (um ano depois) quiser uma tomografia para ver como está a cabeça do sujeito, ele esperará mais um ano.

Ou seja, o que é realizado em um mês no máximo em um país de Primeiro Mundo (clínico geral, especialista, exames), no Brasil o cidadão (pobre) terá que esperar dois anos no mínimo. Este é apenas um exemplo para te mostrar que a cirurgia eletiva é apenas uma parte da situação triste em que se encontra a saúde do brasileiro que não tem convênio.

Fico estupefato quando vejo o Brasil emprestando milhões à Grécia e nosso presidente dizendo que nosso país já é rico o suficiente para dar. É bom que todos saibam como anda a saúde do Brasil antes que cheguem as eleições. Parabéns! (as.) Dr. Leonardo Broilo CRM 22746”.

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