sexta-feira, 14 de maio de 2010


Jaime Cimenti

Cadê nossos personagens e histórias?

Nos últimos anos nossas listas de livros mais vendidos, especialmente a da revista Veja, revelam que romances, novelas e coletâneas de contos de autores brasileiros, com personagens e histórias envolvendo temas regionais ou nacionais, estão bastante ou quase totalmente ausentes.

Com exceção de algumas obras de Lya Luft, Rubem Fonseca, Paulo Coelho ou Chico Buarque, para citar apenas alguns e famosos, parece que os leitores preferem ler autores e obras estrangeiros.

Temos algumas biografias e romances históricos com fatos e personagens de nosso passado, como Chatô e Chico Xavier, que figuraram ou figuram nas listas de preferidos e alguns casos de livros de autoajuda e esoterismo, mas ficção ou poesia tupiniquins propriamente ditos andam sumidos das listas. Será que não temos mais Brás Cubas, Bentinho, Capitu, Capitão Rodrigo, Ana Terra, Gabriela cravo e canela e Jeca Tatu?

Quem se candidata a ser os “novos” Quintana, Erico, Jorge Amado ou Machado? O que houve com nossos autores, leitores, cenários e personagens? Será que estamos mais interessados em vampiros, mocinhas, mocinhos, policiais, serial killers, retirantes, soldados, heróis e vítimas estrangeiros?

Nesta semana, por exemplo, na lista de ficção de mais vendidos da Veja, só tem gringos. Não acredito que seja apenas falta de talento nosso ou escassez de temas ou oportunidades de divulgação. Acho que o buraco é mais embaixo.

Claro que para as editoras, de repente, é mais fácil investir em algum título vindo de fora, que já vem com mídia, filme e tal, ou, também, em velhos clássicos que dispensam direitos autorais, riscos editoriais e outros problemas.

O problema é que nós, como pessoas, e nossa cultura se prejudicam muito com isso. Livros, música, cinema, arte e cultura são universais e o que é bom merece circular pelo mundo, mas o que preocupa é constatar que estamos consumindo enlatados demais e produtos nacionais de menos.

Nada contra a menina estuprada lá no Oriente, nada contra soldados e guerras de outros países, mas acho que temos que nos focar mais em nós mesmos, em nosso passado e presente. Se não for assim, que futuro teremos?

A globalização é inevitável, mas é bom lembrar que temos riqueza de cenários e de personagens municipais, estaduais e federais e que devemos dialogar com o mundo e não só ficar ouvindo, assistindo, lendo e aplaudindo. Acho que a gente pode mais.

Ótima sexta-feira e um gostoso fim de semana para vc

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