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sábado, 22 de maio de 2010
22 de maio de 2010 | N° 16343
DIANA CORSO (interina)
Quem ama até mata
Certos senhores chineses, gravemente desequilibrados, deram para invadir escolas primárias e agredir a marteladas e/ou facadas todas as crianças que conseguirem atingir. Este ano já foram quatro ataques. Esses eventos provocam o mesmo estarrecimento que as chacinas de jovens estudantes promovidas por colegas, que comovem os Estados Unidos com frequência.
Quando alguma tendência desagradável se repete em nossa vida, seja um ato, uma enunciação, um tipo de vínculo, enfim, nos pegamos insistindo em fazer algo que nos é prejudicial ou estranho, chamamos isso de sintoma psíquico.
Para tratá-lo, questionamos o que isso significa, encaramos o que se manifesta em nós como um texto enunciado sem querer, uma mensagem mascarada. Esses crimes que se repetem impõem reflexão similar: por que essa insistência em gestos de loucura idênticos, de fuzilar jovens e esfaquear crianças?
Jovens norte-americanos e crianças chinesas polarizam olhares, afetos, são muito amados. Os adolescentes dos EUA são modelos de exportação de ideais para o mundo todo. Através de seus ídolos, filmes e objetos, as imagens deles incorporam o que qualquer adulto deseja ser pela vida toda. Onde moram as maiores ilusões, costumam se desenvolver as piores frustrações, principalmente entre os “outros” jovens, seus conterrâneos.
São os que se miram e não se veem no exemplo, os rejeitados, ou estrangeiros a esse ideal. Já entre os chineses, há três décadas convivendo com as políticas governamentais de um único filho por casal, as crianças pequenas tornaram-se uma espécie de artigo de luxo. Cada criança é uma aposta única para uma família esperançosa de continuar-se, aprimorar-se. Não estranha que esses loucos dirijam sua fúria para o coração daquelas que centralizam tanto valor.
Nos anos 80 usávamos a frase “quem ama não mata”, lembrando que não é aceitável qualquer condescendência com os crimes passionais. O problema é que quem ama muitas vezes possui, engole o outro, confunde-se com ele e, em casos extremos, pode até matar. Esse arrebato de sentimentos serve para amantes, mas também para pais e filhos, para todas as relações onde nossa vida deposita, ganha e perde seu sentido a partir do vínculo com alguém.
Sintomaticamente, os malucos de cada lugar vão destruir aquilo que a sociedade mais ama. Ao matar, vingam-se, por vezes libertam-se de sentimentos que os oprimem. Por “amor” a uma mulher, em nossa cidade, mês passado um homem assassinou seus três filhos e se matou. Infelizmente, até ser amado é perigoso.
Cláudia Laitano retorna no próximo sábado.
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