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quinta-feira, 13 de maio de 2010
13 de maio de 2010 | N° 16334
LETICIA WIERZCHOWSKI
A gentileza que atrapalha
Há cerca de um ano, meu marido emprestou o carro para sua irmã. No primeiro dia do empréstimo, ainda antes do cair da tarde, ao sair de casa acompanhada pela filha adolescente, minha cunhada foi rendida por quatro homens, dois deles armados.
Depois de um curto interlúdio repleto de angústia, os assaltantes fugiram com o carro do meu marido e os tênis importados da menina, deixando ambas mulheres na calçada, à beira de um ataque (ou dois ataques) de nervos. O empréstimo do carro não durou um único dia, e a violência urbana desfechou seu punho sobre o bom gesto do meu esposo.
Passou-se o tempo, meu marido trocou de carro. Há poucos dias, minha sogra estava por se submeter a uma cirurgia. Embora, nas palavras do cirurgião, a intervenção fosse relativamente simples, estávamos todos naturalmente preocupados.
Para facilitar as coisas – a baixa no hospital fora marcada para o meio da manhã de um dia útil – meu marido emprestou seu novo carro para o irmão mais novo, de modo que minha sogra pudesse chegar ao hospital com todo conforto e sem atropelos.
Saiu meu cunhado aqui de casa no final de uma tardinha de abril, dirigindo o dito veículo. Ainda nessa mesma noite, ao guardar o carro na garagem, meu cunhado foi rendido por quatro homens, dois deles armados. Os assaltantes cercaram-no de modo que ele não teve como escapar.
E fugiram com o carro do meu marido, deixando meu cunhado descalço em frente ao prédio onde, da janela, minha pobre sogra acompanhava todo o infeliz episódio. Desnecessário dizer que ela ficou tão nervosa que não conseguiu dormir durante toda a noite e, no dia seguinte, foi para o hospital de táxi, insone e angustiadíssima.
Como da primeira vez, o carro do meu marido apareceu, intacto, dias depois. E já voltou para a nossa garagem (embora eu, que sou supersticiosa, o venha encarando com certa desconfiança desde então).
Meus dois cunhados garantem que nunca mais pegam carro daqui de casa emprestado. Por via das dúvidas, me parece o mais seguro. E a minha sogra? Contabilizados os sustos todos, sua cirurgia foi um tremendo sucesso.
Ela agora flana por aí, faceiríssima como outrora. Esse é um caso onde a boa ação saiu pela culatra: o que era para ajudar, acabou atrapalhando tudo. Emprestar o carro para o irmão levar a mamãe para o hospital? Talvez na Suécia ou na Dinamarca seja um gesto aconselhável; aqui no Brasil, acreditem: o melhor mesmo é ir de táxi.
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