terça-feira, 18 de maio de 2010



18 de maio de 2010 | N° 16339
CLÁUDIO MORENO



A escolha de Páris

Para a mitologia grega, a guerra de Troia teve origem num inesquecível concurso de beleza entre as deusas mais importantes do Olimpo. Deuses e homens confraternizavam numa alegre festa de casamento quando Éris, a deusa da discórdia - que não havia sido convidada exatamente por sua fama de desmancha-prazeres - fez rolar suavemente no recinto uma maçã de ouro em que vinham gravadas três palavras terríveis: “À mais bela”.

Como mulher, Éris sabia muito bem o que estava fazendo, pois logo brotou uma discussão generalizada entre todas as presentes, finda a qual só restaram três poderosas candidatas - Atena, Hera e Afrodite -, que foram pedir a Zeus, o senhor do Olimpo, que servisse de juiz.

Zeus, no entanto, que era astuto demais para se deixar envolver em armadilha tamanha, alegou que não podia interferir numa disputa que tinha como interessadas sua filha e sua mulher, e ordenou que procurassem Páris, jovem e belo pastor troiano, porque a ele caberia decidir quem merecia o troféu.

Estava para nascer uma cena que sempre fascinou o Ocidente: sozinho no monte Ida, cuidando de seu rebanho, Páris subitamente vê chegar aquelas maravilhosas criaturas, e fica sabendo que Zeus o incumbiu de eleger a mais bela entre as três.

Pressentindo que a decisão, qualquer que seja a vencedora, vai lhe trazer duas poderosas inimigas, ele ainda tenta se esquivar daquele perigoso privilégio que inverte a ordem do universo, pois são os deuses que devem julgar os mortais, e não o contrário - mas tudo é em vão; uma ordem de Zeus não pode ser contestada.

Percebendo a hesitação do jovem, as três, que são mulheres antes de ser deusas, tentam seduzi-lo com promessas. Para ser a escolhida, Hera lhe oferece o poder absoluto sobre toda a Ásia e a Europa; Atena, por sua vez, diz que pode lhe dar toda a sabedoria passada e futura; Afrodite, no entanto, se limita a lhe prometer o amor de Helena, rainha de Esparta, a mais bela mulher do mundo. Páris, como sabemos, escolhe Helena, que será o pivô da guerra de Troia, atraindo sobre si e sobre os troianos o ódio e a perseguição implacável das duas deusas preteridas.

Nunca chegaremos a um acordo sobre o significado desta história. Para uns, ela simboliza o triunfo do Amor (com um solene “A” maiúsculo) sobre a sede de fama e poder.

Para outros, lembra que o homem está sempre condenado a escolher - inexorável e inutilmente, porque, de um jeito ou de outro, vai acabar sendo vítima das forças que desprezou. Para outros, enfim, ela retrata simplesmente aquele momento pungente em que nos defrontamos com o mistério da beleza, naquele ponto originário em que os filósofos se calam e os poetas começam a cantar.

Nenhum comentário: