terça-feira, 11 de maio de 2010



11 de maio de 2010 | N° 16332
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Uma do Benjamin

Tenho um filho de três anos e meio, o Benjamim. Não preciso dizer o quanto ele é importante na minha vida: nasceu quando eu tinha quase 50 anos. Tem um espírito muito vivo, como ocorre com as crianças, em geral, eu sei, mas o que é que eu vou fazer, é ele que está aqui pertinho, ele é que eu acompanho, com o coração na mão e o maior dos desejos de que seja um cara bacana. (Ele e agora a Dorinha, com dois meses.)

Sábado de manhã, ele e eu comendo frutas, eu com o jornal aberto diante dos olhos. Ele corre os seus olhos pelo impresso e depara com uma bandeira do Rio Grande do Sul. Aponta o dedo e pergunta, sem palavras, o que é aquilo. Eu digo: “É a bandeira do Rio Grande do Sul”.

Sinto que não adiantou nada, porque ele não tem, acho, nenhum conceito ou experiência associados ao nome de quatro palavras. Eu acrescento: “A gente mora no Rio Grande do Sul”. Também não adianta, naturalmente; ele fala em Porto Alegre, a “nossa cidade”, e sabe que existe o Brasil, aquele da camisa amarela. Mas um estado ainda não entrou no horizonte dele.

Eu avanço uma explicação: “A gente mora em Porto Alegre, não é? É a nossa cidade. O Rio Grande do Sul é um monte de cidades juntas. E o Brasil é um moooooooooonte maior de cidades.”

Penso que faz algum sentido, mas é claro que me sinto insatisfeito – e ele também, dá pra ver nos olhos dele, diante dessa minha conversa meio tosca. Há uma pergunta dentro dele, fermentando, e eu também ainda não a vejo. E ela aparece: “Mas, pai, e o Inter, o quê que é?”.

Sim, claro, tinha esquecido do Inter. O Inter é o nosso time, fica em Porto Alegre, te lembra que a gente foi no Beira-Rio, lá perto do Guaíba? Aquele do museu bárbaro, com imagens e figuras em tamanho real, aquele do gramado onde os jogadores treinavam, lembra?

Sim: ele é da cidade, mas, pensando bem, é maior que tudo isso, para mim e o Benjamim.

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