sexta-feira, 14 de maio de 2010



4 de maio de 2010 | N° 16335
PAULO SANT’ANA


Nunca houve nada igual!

Foi tão grande, tão intenso, tão surpreendente o turbilhão de emoções desatado durante o jogo Grêmio x Santos, que vale a pena relembrá-lo, eis que ontem não houve tempo nem condição técnica de transportá-lo para esta coluna.

Eram 15 minutos de jogo e André fazia o primeiro gol do Santos. Um manto de tristeza envolveu a torcida do Grêmio. Mas ainda restava a esperança.

Logo em seguida, 20 minutos de partida, André fazia o segundo gol do Santos e a alma gremista foi dilacerada no seio da torcida, não era possível que, em tão pouco tempo, toda a esperança tricolor pudesse ser assim desfeita.

Para mal dos pecados, três minutos após foi marcado pênalti a favor do Grêmio e Jonas correu para a bola carregando um remoto ânimo de reação. Jonas chutou e o goleiro defendeu com a perna.

Rara vezes se viu a torcida gremista tão amargada, o destino dera asas ao Grêmio e a realidade lhe prendia o voo.

O intervalo do jogo foi marcado por um museu de cera em que se transformaram os rostos dos torcedores aparvalhados com o que estavam sentindo, uma dor imensa compungia todo o estádio.

Havia torcedores que ameaçavam ir embora do estádio, embora faltassem ainda 45 minutos para curtir a dor da derrota, que prenunciava ser ainda mais severa.

Outros torcedores decidiam ir embora para casa e faziam isso, abandonando o campo de batalha ante a iminência de uma derrota vexatória.

Mas a grande parte da torcida permaneceu em seus postos, pronta para ser executada no cadafalso das ilusões malbaratadas.

Eram 12 minutos do segundo tempo e Borges fez o primeiro gol gremista. Houve uma vibração discreta da torcida.

Até que o primeiro impulso de violenta emoção veio 18 minutos de segundo tempo com o segundo gol de Borges, o empate inacreditável se desenhava ante o público atônito, que tinha sido presenteado com aquela surpresa alentadora.

Até que, aos 22 minutos do segundo tempo, Jonas brindaria a nação tricolor com um gol de trepidante beleza plástica.

A vibração que tomou conta da torcida foi indescritível, os que me abraçavam conseguiam, a cada gol que o Grêmio fazia, jogar meus óculos longe no chão.

Quando Borges fez o quarto gol, aos 31 minutos do segundo tempo, cenas de irrefreável emoção se desenrolavam no estádio, os torcedores, tomados de uma histeria enlouquecida se abraçavam, se reabraçavam, se beijavam na boca, um êxtase de loucura tomou conta das arquibancadas e todos se compraziam em deliciar-se em um gozo para o qual não estavam preparados.

Ninguém podia acreditar que o grande Santos de Ganso e André, depois de estar vencendo o Grêmio por 2 a 0, deixara-se dobrar por 2 a 4 pelo Grêmio, repetia-se no Olímpico o terremoto emocional da Batalha dos Aflitos.

Agora se podia de novo saber por que se intitula o Grêmio de Imortal Tricolor.

O Clóvis Malta reside no bairro Santana, a 12 quadras do Estádio Olímpico. E ele sentia de fato os alicerces de sua casa tremerem diante da vibração da torcida no estádio.

O maior jogo da história de 56 anos do Olímpico estava sendo disputado.

Não tinham chegado ao fim ainda os tsunamis emocionais da partida com aqueles 4 a 2 consagradores: um fino e afiado punhal ainda penetraria na alma gremista com o terceiro gol de Robinho, ameaçando ainda mais o Grêmio para a partida da Vila Belmiro, diante desse exótico critério de gol forasteiro de valor especial, que fará do Santos incrivelmente o classificado se ganhar por mero um a zero do Grêmio.

Nenhum comentário: