segunda-feira, 10 de maio de 2010



10 de maio de 2010 | N° 16331
PAULO SANT’ANA


O ponto fraco

Um dos fatos que mais me intrigam é que todos se acham feios, ninguém se julga bonito.

O tempo vai passando e as pessoas bonitas vão recebendo elogios, vão caindo no gosto do mercado e acabam se convencendo, não tanto, de que são bonitas.

Mas uma inclinação muito humana é pôr defeitos na sua própria aparência.

Conheço, por exemplo, pessoas que são bonitas por serem magras e detestam a sua magreza, julgando-se feias.

Enquanto que, se forem atingir o aspecto que pretendem, fatalmente serão consideradas feias.

Outro dia, topei com uma senhorita com um dos mais lindos narizes que já vi. E ela me disse que não dorme à noite por ter nariz tão grande, não sabe o que vai fazer, tem medo da cirurgia plástica mas vive escondendo o seu nariz da exposição pública.

Expliquei a ela que desse aos outros o direito de julgar o seu nariz e que a opinião alheia sobre ele era a melhor possível.

Ela me respondeu: “Eu sou a dona do meu nariz, portanto é soberana a minha opinião sobre ele. Todos vêm me dizer que meu nariz é bonito para consolar-me, na verdade sei que meu nariz é feio. Além disso, seja ele feio ou bonito, a única opinião que interessa sobre isso é a minha. E eu decididamente não gosto de meu nariz”.

É muito difícil uma pessoa conviver com o que parece ser um defeito físico que tem.

Há mulheres que detestam as pernas grossas que têm e já há outras que não toleram suas pernas finas.

Há outras que se consideram magras demais, gostariam de ser “cheinhas”, mas as que são “cheinhas” se autodetestam, queriam engordar um pouquinho mais.

E assim caminha a humanidade, ninguém se julgando satisfeito com os dons da natureza.

O problema reside também em que o corpo humano é dotado de inúmeros equipamentos: as orelhas, os lábios, os dentes, os dedos das mãos e dos pés, a cintura, os cabelos, o nariz, a testa, os seios, as sobrancelhas, os cílios, a barriga, as pernas, as mãos, os pés etc.

Para a pessoa vaidosa, uma só dessas equipagens que não considere esteticamente aceitável serve para infernizá-la.

Elas não sabem que as outras a enxergam como um conjunto, fixa seu pensamento naquele defeito e imaginam que todos estão olhando para ali, quando na verdade para as outras pessoas aquele é apenas um detalhe, desimportante, não decisivo.

Mas a dona do equipamento esteticamente discutível não pensa assim, acha que está vetada para a vida por causa daquela imperfeição.

É tudo uma questão de autocrítica. Há homens que adoram na mulher os seios grandes: e há milhares de mulheres que correm para as clínicas de cirurgia plástica em busca de diminuírem seus seios.

O gosto estético é tão variado, que há homens que adoram mulheres dentuças, que têm os dentes da frente pronunciados. Mas a uma mulher dentuça isso soa como uma depressão.

Não adianta a gente dizer a essas pessoas que vão procurar a sua turma, isto é, aproximar-se de homens que gostam de seios grandes, de dentinhos de castor.

Elas teimam em julgar-se infelizes por não serem do tipo de gosto clássico e universal.

E, cá para nós: seria muito difícil, quase impossível, que a natureza pudesse dotar uma pessoa de todos os equipamentos formosos.

Em algum ponto, a natureza iria falhar.

Só que em contrapartida a natureza criou milhares de outras pessoas que não enxergam os defeitos acusados pelos que não se julgam bonitos.

Tudo isso se baseia na pessoa encasquetar que é feia. A Gisele Bündchen, por exemplo, vai ver que há alguma parte do corpo dela que ela detesta.

Pode?

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