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sábado, 29 de maio de 2010
29 de maio de 2010 | N° 16350
NILSON SOUZA
A gênese da polêmica
Lá pelo 1.277.500.000º dia, se não me falha a matemática, Deus criou Darwin à sua imagem e semelhança, inclusive com aquela barba imensa da nota de 10 libras. Deu no que deu, como todos sabemos.
Depois de colecionar insetos e plantas, o inglês fez uma viagem de navio à América do Sul, pegou um febrão na Argentina e escreveu o mais polêmico livro de todos os tempos – A Origem das Espécies –, revelando aos humanos a existência de ancestrais que até hoje mantemos enjaulados por puro preconceito.
– Tomara que não seja verdade – disse certa vez uma escandalizada dama francesa ao ser informada sobre a teoria do pesquisador britânico. E complementou:
– E, se for verdade, tomara que ninguém fique sabendo.
Pois ficamos. Não sei se a imprensa é culpada disso também. É bem provável. Que jornalista seguraria uma notícia dessas? Ainda hoje o tema nos fascina.
Outro dia, depois de saborear as minhas bananas matinais, fiquei imaginando um diálogo improvável entre o Criador e a sua irreverente criatura, que a seguir representaremos pelas iniciais D e D, ambas maiúsculas, para mantermos a neutralidade. De acordo com os registros históricos, as frases são autênticas:
D – Que a terra produza seres vivos segundo sua espécie: animais domésticos, répteis e feras segundo sua espécie!
D – A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana.
D – Façamos o homem à nossa imagem, com nossa semelhança, e que ele domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.
D – Devemos, no entanto, reconhecer que o homem com todas as suas nobres qualidades ainda sofre em sua prisão corpórea a indelével marca de sua humilde origem.
A audácia não passou despercebida. Veio, então, a primeira advertência e o debate esquentou:
D – Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás que morrer.
D – Não tenho o menor medo de morrer.
D – Tu és pó, e ao pó tornarás.
D – A história se repete. Esse é um dos horrores da História.
D – Farei desaparecer da superfície do solo os homens que criei, porque me arrependo de os ter feito.
D – Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.
Pesquisa recente da BBC londrina mostrou que mais da metade dos britânicos não acredita na teoria evolucionista. Mas, na semana passada, cientistas americanos anunciaram a criação da primeira célula artificial. É polêmica para a eternidade.
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