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sexta-feira, 28 de maio de 2010
28 de maio de 2010 | N° 16349
PAULO SANT’ANA
Crianças torturadas
Acordei ontem sobressaltado por três notícias que esperaram eu sair da letargia para sobressaltarem o meu espírito.
As três notícias, além disso, estragaram o meu dia, recém no seu início.
A primeira dizia que um menino tinha sido atropelado defronte à sua escola pelo mesmo ônibus que o deixara naquele instante no colégio.
A segunda dizia que outro menino tinha tido o rosto incendiado por álcool em chamas. O churrasqueiro acusado do crime alegou acidente: estava lançando álcool para iniciar o fogo do churrasco e uma lufada de vento jogou o líquido em chamas sobre o rosto do menino.
Mas o menino disse que o churrasqueiro fez aquilo de propósito.
O menino restou com o rosto desfigurado.
Não bastava isso e vinha logo em seguida o exocet fatal para o meu equilíbrio emocional, o Macedo ia lendo a notícia na rádio e eu do outro lado da linha desabava: um homem, pai ou padrasto, havia dado duas facadas no seu filho ou enteado. Depois disso, o homem tentou se suicidar com a faca, sem sucesso. E o bebê tinha sido internado em estado gravíssimo num hospital
Tudo isso aqui entre nós, no nosso meio gaúcho.
Ando, sinceramente, apalermado com a onda de violência que se desfere contra as crianças.
Para mal dos pecados, aquela procuradora que foi adotar uma menina de dois anos, com a única finalidade de torturar diariamente a criança, encheu todas as medidas.
Ela está presa porque foi suficientemente provado que submetia, todos os dias e todas as horas, a menina de dois anos à sua extrema truculência: o rosto da menina apresentava olhos crivados de hematomas, quase não podia fechá-los, sabe-se lá que tipo sofisticado de tortura a procuradora, que queria ser mãe adotiva da criança, aplicava na menina.]
Uma procuradora, uma mulher que já tinha sido promotora, cometer essa selvageria! Como pode a violência se tornar assim tão injustificável, tão intraduzível?
O desesperante nesta crônica de violências e torturas que assaltam nosso meio é que os praticantes dessa barbárie são pessoas comuns e até respeitáveis, que de repente dão vazão ao gene de destruição que compõe as suas mentes e desatam em crueldades inenarráveis.
Ou são pessoas que convivem conosco, na nossa cidade, na nossa rua, na nossa casa e num repente se mostram como monstros repelentes de violência inexplicável.
E vêm aumentando os atos de violência contra as crianças. Cresceram em 11% no período de abril de 2009 até o mês passado.
E isto são só as agressões contra crianças que se noticiam. Porque a maioria delas não chega ao conhecimento da imprensa, fica escondida, oculta no meio familiar, o que aprofunda ainda mais o desastre: as crianças indefesas permanecem anos inteiros à mercê de seus carrascos.
A mãe do bebê de três meses de idade que foi esfaqueado pelo seu padrasto chegou em casa a tempo de ver a barbárie: “Quando vi, ele estava enterrando a faca na barriga da minha filha”.
Mas o que é isto? Chego à conclusão de que o hospício é mesmo o quartel-general dos loucos, as outras unidades estão espalhadas entre nós.
De ciúme de sua mulher, não a matou. Mas esfaqueou duas vezes a filha dela, por vingança.
Por que não se matou só a si próprio esse infeliz?
Quando é que vão parar as violências contra as crianças e os animais?
Nunca. Porque a loucura não cessa nunca.
É muito mais que ser patife e canalha esfaquear um bebê de três meses.
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