segunda-feira, 10 de maio de 2010



10 de maio de 2010 | N° 16331
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL


Terror

O neto circula pela casa dos avós. De longe, a voz infantil:

– Vô, o que é Terror?

– Terror...?

– Aqui, num livro. Tem esse nome.

De imediato, a lembrança de uma publicação, em cuja capa está escrito Terror. O momento trágico da Revolução Francesa, no qual todos pareciam dominados pela insanidade. Execuções em massa. Ditadura de Robespierre. Guilhotina.

– Vô, por que tem um homem deitado numa tábua e tem um ferro que vai cair e que vai cortar a cabeça dele? E essa cesta, é para a cabeça cair dentro dela?

Bem, agora o assunto ficava complicado.

– As coisas eram assim, naquele tempo” – uma resposta pífia.

– Esse homem era um bandido, não era?

– Não... não era...

– Então o bandido é o esse outro homem, o que vai cortar a cabeça dele?

– Não, não chegava a ser.

– Então o bandido era quem mandou o outro cortar a cabeça?

– Não...

Simples o que veio depois:

– Mas vô, se ninguém era bandido, como é que cortavam a cabeça uns dos outros?

O verdadeiro terror agora apossava-se do avô.

– Deixa o vô pensar. É difícil explicar neste momento.

– Deve ser...

Por sorte o assunto ficou por ali.

Como explicar-lhe os rumos enviesados da política, a roda da fortuna, os ups and downs das pessoas no poder?

Como explicar-lhe a intolerância comandando a sociedade?

Como explicar-lhe o pior, isto é, que todos se julgam puros, incorruptíveis, mesmo que façam as piores atrocidades?

Como explicar-lhe que numa campanha política, por exemplo, campeiam as calúnias mais desvairadas, os insultos mais perversos, as acusações mais descabidas? E tudo isso em nome do bem e do justo?

Só temos uma vantagem, em relação ao Terror: nossa guilhotina é feita de palavras viciosas. Mas com resultado, quem sabe, ainda mais perverso.

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