
04 DE ABRIL DE 2022
EM DIA
MENOS DO MESMO É MAIS
Maria, minha filha de cinco anos, é pura inspiração e me deixa tranquilo com o que me tornei. Experimenta, mergulha, imita, improvisa. Depois, aprende a regra. A primeira vez que dei tinta e papel, em vez de pintar no papel, pintou o corpo. Quando vejo que estamos dentro de sistemas que exigem mais e mais hiperespecialização, lembro as crianças. Amplitude é a palavra adequada para os dias atuais. O modo de pensar é mais importante do que o conhecimento prévio detalhado.
Quando me dei conta da amplitude dos meus interesses em aprender, fiquei assustado. Educação, arte, montanhismo, marketing, jardinagem, transformação de negócios, política, comportamento, viagens a lugares remotos. Sou um generalista. Isso é bom ou ruim? Como acompanhar tudo sem perder o foco ou aprofundar o conhecimento de uma área? No livro Por que os Generalistas Vencem em um Mundo de Especialistas, David Epstein parte de ampla pesquisa com talentos em diversas áreas, onde constatou que em geral eles não são especialistas precoces.
Mostra que a amplitude de conhecimento, experiência diversificada e interdisciplinar tornou-se necessária ao novo mundo. Não há só um caminho. A história está repleta de gente que experimentou muito, testou, errou, mudou de atividade muitas vezes, contribuindo para setores onde atuava e para o mundo. O importante é não sentir desconforto em ir aonde ninguém foi, não se comparar a ninguém, a não ser com o seu eu de ontem. Cada um avança em um ritmo. Epstein mostra que um grupo de especialistas não pode substituir as contribuições de indivíduos com interesses amplos.
Quando conhecemos as regras, a hiperespecialização funciona. Mas o que mais acontece hoje é a mudança da regra. Se os problemas estão definidos, especialistas avaliam rápido. Quando as regras são alteradas, eles têm mais dificuldade em se adaptar. Nossa maior força é o oposto da especialização. É a capacidade de fazer uma integração ampla. A essência é como fazer de maneira diferente. O trabalho moderno exige transferência de conhecimento para novas situações e diferentes domínios. Mesmo especialistas bem-sucedidos pertencem a um mundo com interesses fora da sua área.
Como observa o psicólogo Dean Simonton, pesquisador da criatividade: "Em vez de se concentrar em um tópico, os empreendedores criativos tendem a ter interesses amplos, que dão suporte a ideias que não podem ser atribuídas apenas à especialização específica do campo". É preciso levar o conhecimento de uma atividade, aplicá-lo criativamente em outra e evitar padrões antigos. Em um mundo onde os desafios são mal definidos e com poucas regras rígidas, é preciso ter um pé fora do seu mundo!
ALFREDO FEDRIZZI CONSELHEIRO E CONSULTOR
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