segunda-feira, 4 de abril de 2022


04 DE ABRIL DE 2022
ARTIGOS

O CÂNCER NÃO ESPERA

A covid-19 gerou um impacto ainda não totalmente avaliado no planeta. Com uma quantidade enorme de doentes e uma dramática concorrência por recursos de saúde, blocos cirúrgicos foram adaptados como leitos de UTI e cirurgias eletivas e exames de rotina foram adiados. Num cenário de incertezas e insegurança, a história é bem conhecida: milhões de pessoas infectadas, uma quantidade devastadora de vidas abreviadas e um turbilhão ainda não equacionado de sequelas. A polarização e a politização tumultuaram ainda mais a navegação nessa tempestade, comprometendo decisões que deveriam ter sido essencialmente técnicas.

Mas essa provação também tem aspectos que nos encorajam. Reagimos com agilidade, investigando medicamentos e vacinas que mostraram eficiência inequívoca em salvar vidas. Mais do que nunca, o debate sobre ciência e saúde ficou próximo da comunidade. Cabe a todos extrair aprendizados que nos protejam de outras crises.

No futuro imediato, é penoso dizer que enfrentaremos um grave problema: a pandemia está dando sinais de desaceleração, mas o câncer não espera. Dados do Sistema de Informações Ambulatoriais, do Sistema de Informações Hospitalares e do Sistema de Informação do Câncer mostram que durante a pandemia, houve redução de aproximadamente 45% em exames preventivos do câncer de cérvix e 42% em mamografias, por exemplo. O impacto na mortalidade pelo fato do câncer ser descoberto em estádios mais avançados será sentido.

Dados levantados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e pela Sociedade Brasileira de Patologia estimam que ao menos 70 mil brasileiros com câncer deixaram de ser diagnosticados nos quatro primeiros meses de pandemia. É possível que enfrentemos uma "sindemia", infecção e câncer. O termo "sindêmico" refere-se a duas ou mais epidemias cooperando sinergicamente e contribuindo para o uma carga excessiva de doença em uma área ou população, em vez de simplesmente a soma de ambas.

A campanha "O câncer não espera" busca resgatar os que ficaram pelo caminho em suas rotinas e reduzir o risco de que o combalido sistema de saúde entre em nova espiral de insuficiência. A covid elucidou a dinâmica complexa entre um desafio complicado e problemas de saúde coexistentes, crônicos e endêmicos. É o momento oportuno de retomar avaliações de rotina eficazes e que salvam vidas.

O aniversário de Porto Alegre, além de oferecer muitos motivos para celebração, também é o momento adequado para reflexões sobre o futuro da capital dos gaúchos. Como estamos nos mobilizando para a transformação da cidade? Como as novas tecnologias podem ajudar a moldar esse futuro que está cada vez mais próximo? Porto Alegre já está se transformando digitalmente e adotando iniciativas voltadas à inovação, facilitando, por exemplo, a vida do cidadão com aplicativos como o 156+POA, que coloca diversas funcionalidades na palma da mão do usuário.

A Capital já deu o primeiro passo ao iniciar o processo de migração dos processos analógicos para os digitais, tirando os dados do papel e colocando-os em plataformas que possibilitam uma infinita transversalização de dados, amplificando o desempenho e a conexão entre os agentes envolvidos na gestão. Com essas ações, a cidade pode caminhar para se tornar mais responsiva, unindo a lógica de uma cidade inteligente (smart city) ao protagonismo dos usuários.

Nesse modelo responsivo, os cidadãos passam do centro das atenções para o centro da ação. Cidadãos responsivos usam tecnologia inteligente para contribuir com planejamento, projeto e gestão de suas cidades. As pessoas imputam dados em plataformas - como acontece no Waze, por exemplo - e, assim, a necessidade de inteligência específica para monitorar determinado setor da cidade é reduzida. A cidade responsiva é focada no usuário, mas também exige um alto grau de responsabilidade do cidadão, uma mudança cultural e a ampla e igualitária possibilidade de acesso à tecnologia.

A revolução digital que estamos vivenciando apresenta novas e animadoras perspectivas para o planejamento urbano, o desenho e o desenvolvimento econômico das cidades. Além disso, coloca em discussão as tradições e as bases sobre as quais os gestores operaram nas últimas décadas. E o resultado pode ser surpreendente. Uma cidade responsiva não é aquela que apenas sabe lidar com dados compartilhados. Também é muito mais transparente e precisa de um grande engajamento das pessoas. Neste cenário, todos são cúmplices e dispostos a se envolver na construção de uma cidade mais descentralizada e mais autônoma. 

Médico oncologista Diretora Instituto Cidades Responsivas - STEPHEN STEFANI LUCIANA MARSON FONSECA

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