06 DE JANEIRO DE 2021
HUMBERTO TREZZI INTERINO
Entre vírus, feiticeiras e bandidos mascarados
Ah, o verão! Bom sinal, já é tempo, de abrir o coração e sonhar, diziam aqueles versos imortalizados pelo Roupa Nova... Me espicho na areia da praia, de calção e máscara. Olho para o lado, o sujeito pançudo, de sunga... e máscara. A senhora de formas avantajadas e sua filha adolescente, deixando o mar lamber seus tornozelos... ambas de máscara, claro. Me dá um desânimo... Sei que é impositivo, sei que é necessário, mas me sinto ridículo com o corpo seminu e o rosto todo coberto. Ainda bem que esse pensamento lamurioso logo é substituído pela imagem do vírus, com seu formato de coroa de espinhos (daí o nome, corona, você sabe) e seu sorriso maligno. Em seguida me conformo e, óbvio, lembro da Feiticeira e do litoral do Oriente Médio.
A Feiticeira, jovens, era uma loira escultural que surgiu na década de 90 do século 20 para atiçar a imaginação dos telespectadores e a inveja das telespectadoras. Sua maior rival era a Tiazinha, uma morena, mas dessa o titular deste espaço já falou, dias atrás. O que elas tinham em comum? A máscara. Um dos desafios daqueles anos pré-internet era descobrir a verdadeira identidade dessa dupla. Quando o mistério foi desfeito, as duas sumiram, engolidas pelos escaninhos da revista Playboy (que, aliás, também sumiu).
Já o Oriente Médio me veio à mente porque lá as muçulmanas vão à praia de véu sobre a cabeça e túnica até os pés (o hijab). Na maioria das vezes, vestes escuras, porque a religião veta transparências que exponham seus predicados. Nem sequer os joelhos é permitido mostrar. Achou que eu iria falar de máscaras, né? Mas nos balneários do Egito, da Tunísia e da Líbia, onde estive, a máscara não era obrigatória para as islamitas. Eu falei "não era". Agora é, em decorrência da covid-19. Para todas as mulheres, não só as maometanas. Lá e aqui.
E esse ocultamento todo me fez lembrar, lógico, de criminosos. Os mais espertos sempre usaram máscaras. Feliz do policial quando deparava com imagens gravadas em câmeras nas quais os bandidos estavam de cara limpa. Agora o trabalho da polícia ficou bem mais difícil. Os ladrões tapam o rosto não só na hora de assaltar, mas ficam com a face coberta todo o veraneio, em tempos de coronavírus. Parece piada, mas tente identificar um criminoso em meio a milhares de pessoas caminhando, mascaradas, por aí. O vírus prejudicou também o reconhecimento facial e facilitou a desenvoltura dos delinquentes.
É... Maldito vírus. Saudade dos tempos em que máscaras eram sinal de sensualidade e mistério. Vambora, exercitar a imaginação. Quem sabe aquela sua vizinha de canto na areia seja a Feiticeira, ressurgida anônima e bela de algum lugar do passado? Pelo menos enquanto a vacina não vem, é preciso sonhar. Afinal, é verão, bom sinal, já é tempo...
*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 15/01.
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