sábado, 17 de fevereiro de 2024


17 DE FEVEREIRO DE 2024
FLÁVIO TAVARES

RESSACA DO CARNAVAL?

Parecem estar certos todos aqueles que afirmam que, no Brasil, tudo é imprevisível e nada surpreende, nem sequer o mais absurdo dos absurdos. Sim, pois é isso que a operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, vem revelando sobre as tentativas do então presidente Jair Bolsonaro de manter-se no poder, mesmo tendo perdido a eleição de 2022.

Não repetirei o que este jornal vem informando sobre o inquérito que, pela primeira vez na história do país, revela o que se esconde por trás dos biombos da política. Tudo está à mostra a partir da "delação premiada" do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do então presidente da República.

O ponto de partida veio de quem apenas cumpria o que Bolsonaro ordenava. Nada foi improvisado ao calor da campanha eleitoral quando tudo parece permitido para triunfar.

Já em julho de 2021 (15 meses antes da eleição), o então ministro da Defesa, general Walter Braga Neto, disse ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que "em 2022 não haveria eleições sem voto impresso". Surgia um dos cavalos de batalha com que o então presidente tachou de fraudulenta a eleição que não venceu.

A gravação da reunião ministerial de 5 de julho de 2022 encontrada no computador de Mauro Cid revela os planos e ações de Bolsonaro para impedir as eleições. Trata-se da primeira vez na história do Brasil em que o próprio chefe do governo busca impedir as eleições sem que, para tanto, exista um motivo ou um pretexto.

Em 1937, quando se instituiu o Estado Novo, havia um pretexto - o chamado Plano Cohen, só anos depois descoberto como falso, e que "revelava" uma chacina geral planejada pelos comunistas. Dois anos antes, em 1935, a intentona comunista fora derrotada e tudo o que se inventasse sobre o "perigo vermelho" era tido como verdadeiro.

Hoje em dia, porém, só os resquícios psicológicos da Guerra Fria levam a que se fale em "perigo comunista", como o fazia Bolsonaro.

Ou a continuidade de tudo o que agora aparece não terá sido antecipada ressaca do tristonho Carnaval em que queriam transformar o Brasil?

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES

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