07 DE FEVEREIRO DE 2024
CARPINEJAR
Sepultura da democracia
Venezuela é uma sepultura. Hugo Chávez matou lentamente a democracia por quatro mandatos de populismo messiânico, e Maduro foi o seu coveiro. Desde 2013, o país não conhece eleições livres e justas.
Alguém confiava que haveria pleito democrático neste ano? O acordo entre o regime chavista e a oposição, feito em outubro do ano passado, já desbotou de modo eloquente pela sede sanguinária de autoridade de Nicolás Maduro.
Os venezuelanos fingem que votam, Maduro finge que sai. Nada mudou em 11 anos. O instrumento usado para a manutenção da ditadura é o Tribunal Supremo de Justiça, controlado pelo Executivo, que acabou de proibir a ex-deputada María Corina Machado de concorrer à presidência.
A mais forte opositora, vencedora das primárias da oposição por ampla maioria, acabou sendo posta para fora da corrida. Sua voz se encontra apagada, impedida de ocupar qualquer cargo público até 2036. Maduro desmoraliza as urnas mediante a inelegibilidade de seus principais adversários - Henrique Capriles, fundador do partido Primeiro Justiça, duas vezes candidato presidencial, sofreu igual sina.
Enquanto não existir independência entre os poderes, enquanto o Legislativo e o Judiciário permanecerem como marionetes da mão de ferro presidencial, jamais veremos uma Venezuela democrática novamente. Pois todo julgamento tem a insídia oculta da perseguição ideológica.
Maduro tampouco teme a retomada, por parte dos Estados Unidos, de sanções referentes a petróleo, gás e minerais. Até porque quem sofre com as sanções não é ele, encastelado no Palácio de Miraflores, mas a população, que amarga um racionamento devastador.
Aliás, o discurso do chavismo cheira a formol da Guerra Fria e apenas se sustenta contra o imperialismo americano. Os Acordos de Barbados representaram um artifício, via política externa, para desviar atenção do caos social, evidenciado pela prisão de 32 dissidentes que foram acusados de conspirar contra o governo.
Da mesma forma, a ameaça da guerra contra a Guiana pela região de Essequibo é uma cortina de fumaça do charuto de Maduro. Este cria uma notícia internacional para sufocar o esfacelamento interno.
Tiranos não possuem credibilidade. Àqueles que não acreditam em mim, recomendo o livro Noite em Caracas, da jornalista Karina Sainz Borgo, uma venezuelana exilada na Espanha. A escritora confessa que desejava ter elaborado uma ficção, mas a realidade engoliu qualquer fantasia, superando os diagnósticos mais pessimistas.
Ela descreve a história de uma enlutada que, logo após a perda da mãe, vê seu apartamento ser ocupado por uma milícia, sem nenhuma explicação legal plausível. Além do velório materno, atravessa o enterro de sua nação, por controle de opinião, inflação nas alturas, escassez de comida e de itens de necessidade básica, contrabandeados pelo triplo do preço.
Sua única saída é assumir uma identidade falsa e ser mais uma refugiada entre milhões que já deixaram para trás suas profissões, suas famílias, seus bens e sonhos.
Se ainda assim não acreditar em mim, nem sequer no testemunho literário de Karina, quem sabe possa levar em conta o Conselho de Direitos Humanos da ONU, que tem um inventário dos crimes contra a humanidade praticados na autocracia venezuelana.
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