12 DE FEVEREIRO DE 2024
+ ECONOMIA
O silêncio dos pouco inocentes
Os trechos de vídeos da reunião ministerial do dia 5 de julho de 2022 compõem um filme de terror. Discute-se, em um evento com aspecto oficial, com direito a "prismas" (papel dobrado para identificar um participante) com os nomes dos participantes e a tarja da República, temas como "virar a mesa", "fazer alguma coisa" antes das eleições e "agir contra determinadas instituições".
Pausa para um exercício: imagine-se o impacto das cenas se os participantes fossem Lula e seus atuais ministros. Para muitos de seus seguidores, o ex-presidente Jair Bolsonaro é inimputável. Não importa quanto sua digital esteja impressa - como no texto que anuncia decretação de estado de sítio mencionando "as quatro linhas da Constituição" - nem que esteja gravada sua proposta de insurreição, nada é visto como prova suficiente.
Pelas frases que apareceram nos documentos no dia da operação, supunha-se que se tratasse de reunião secreta e restrita apenas aos envolvidos diretos com o assunto. Nada disso. Era reunião ministerial formal, com a presença de todos, inclusive do então ministro da Economia, Paulo Guedes.
Bolsonaro e o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, foram os mais vocais. A certa altura, consciente da gravidade das declarações, o então ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário, pergunta se a conversa está sendo gravada. Bolsonaro responde que mandou gravar as falas dele.
Pausa para outro exercício: para que finalidade o então presidente queria gravar esse momento? Certamente não para produzir provas contra si mesmo. A especulação mais provável é a de que queria um documento do dia em que mudaria o futuro do Brasil.
O fato de as frases terem mais palavrões do que pausas lógicas só acentua o clima de tensão. O que Rosário tentou fazer foi destacar o fato de que o Tribunal de Contas da União (TCU) já havia comprovado a lisura das urnas eletrônicas. Leva uma rude descompostura.
Quando Augusto Heleno levanta o assunto de "infiltrar agentes nas campanhas", encara um corte brusco e a ordem de discutir esse assunto "em particular, no gabinete". Por que será que se pode falar em "atacar determinadas instituições", mas não em "infiltrar agentes"? Talvez ficasse mal na narrativa da resistência heroica de 5 de julho.
Mas assim como impressiona a violência verbal, há outro comportamento que assusta: a aparente naturalidade com que 23 ministros ouvem a discussão sobre a quebra da institucionalidade. O nome do filme de terror poderia ser O Silêncio dos Pouco Inocentes.
CECÍLIA RAPASSI Sócia-diretora da Gouvêa Fashion Business
Cecília Rapassi é sócia-diretora da Gouvêa Fashion Business, que é referência no mercado nacional do varejo, parte do Gouvêa Ecosystem. Formada em Moda e pós-graduada em vendas e negociação, Rapassi é também professora no curso de pós-graduação em Fashion Business na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP). Com cerca de 20 anos de experiência no segmento, considera a fusão entre Arezzo e Soma como um ganho de profissionalização para o segmento. E avisa: pode haver novos movimentos.
Qual o peso da fusão dos grupos Arezzo e Soma?
Esse grupo vai se tornar, como o mercado percebeu, uma "powerhouse", uma referência. A fusão soma cerca de 30 marcas, e faturamento total em torno de R$ 12 bilhões por ano. Fica claro que vai ocorrer um grande ganho de escala de produção, integração tecnológica, presença no território nacional, com mais de 2 mil pontos físicos de venda, redução dos tempos de entrega de produtos, maior eficiência logística. Essa operação também vai aumentar a profissionalização do segmento, aumentando a régua de exigência.
Qual o maior desafio para fazer operação dar certo?
A integração entre as culturas das marcas e dos grupos. Os dois grupos já vinham de aquisições e integração com marcas menores. O Grupo Soma vinha de momento delicado de integração com a Hering, que já era uma gigante, e aí já havia a cultura carioca e a catarinense. Esse é um processo demorado, leva tempo até se criar uma cultura única, harmônica, e agora vem uma nova onda de integração de várias culturas. Essa diferença precisa ser bem trabalhada para que os grupos consigam capitalizar em cima dos ganhos de produtividade e redução de custos.
Como vê o grande apetite da Arezzo por aquisições?
A Arezzo sempre foi especialista em calçados, e começou a adquirir outras marcas, como Vans, Paris Texas e Reserva. Foi o grande movimento do grupo para entrar no vestuário masculino. O Grupo Soma se origina com a fusão de Animale e Farm e comprou outras marcas, como Cris Barros, Nati Vozza, Maria Filó, até a grande aquisição da Hering. Em um conglomerado de marcas, ou "house of brands", os grupos se estabelecem como referências porque vão da moda mais democrática ao luxo. Mesmo com essa grande fusão, podem ocorrer novos movimentos envolvendo o grupo no futuro, pois ainda há possibilidade em outros segmentos, como infantil, jeans wear e vestuário masculino.
As chinesas influenciaram?
Sim, porque pressionam o mercado. Por mais que seja uma competição em faixa de preço mais baixa, chega até a quem consome produtos de luxo. As vantagens que vêm com a fusão ajudam a competir com o menor preço.
Qual o impacto da fusão para a Lojas Renner?
É um sucesso no mercado nacional, e continua em primeiro lugar em faturamento. É exemplo em práticas de sustentabilidade, e líder de vendas. Ainda tem um diferencial em relação aos concorrentes, que é o fato de já estar consolidada como ecossistema, uma plataforma que oferece também produtos financeiros e outros tipos de serviço, tendência do varejo global.
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