07 DE FEVEREIRO DE 2024
OPINIÃO DA RBS
DESPREPARO E RISCOS
São inquietantes as informações reunidas pela Superintendência Regional do Trabalho sobre o quadro de despreparo de equipes a serviço da CEEE Equatorial. É grave o apontamento de que profissionais contratados por uma terceirizada da distribuidora para atuar na linha de frente, expostos aos riscos de realizar operações junto à rede elétrica, vêm recebendo um treinamento muito aquém do exigido.
O enredo torna-se ainda mais sério devido aos indícios de que informações são fraudadas para esconder dos registros formais a capacitação insuficiente prestada aos funcionários. O caso foi revelado em reportagem de Fábio Schaffner publicada ontem em Zero Hora.
Órgãos e instituições fiscalizadores e reguladores devem agir: averiguar a situação a fundo, elucidar responsabilidades e exigir o fim de uma série de práticas que, na mais leve das hipóteses, constituem-se em uma negligência inaceitável para uma empresa que atua em um setor básico que, por sua natureza, tem considerável grau de periculosidade para os trabalhadores.
Agora é possível compreender melhor a demora recorrente da CEEE Equatorial em restabelecer o fornecimento de energia a cada temporal mais forte. Boa parte de suas equipes enviadas às ruas, como as da terceirizada Setup, não tem o conhecimento suficiente exigido para a função. Assim, é lógico que mais consumidores sofrerão com intervenções mal executadas e falta de luz por um tempo muito acima do razoável.
Outra consequência alarmante é o risco elevado de acidentes sofridos pelos colaboradores devido ao conhecimento técnico insuficiente. A Superintendência Regional do Trabalho aponta, no ano passado, três mortes de funcionários que atendiam a ocorrências na rua. Todos eram vinculados à Setup. A constatação do órgão é aterradora ao citar que "os três casos seguem exato mesmo perfil, envolvendo erros operacionais grosseiros praticados pelas equipes acidentadas em razão da falta de domínio das funções por motivo de desqualificação das equipes".
Não é incomum que os novos controladores de empresas privatizadas façam alterações significativas no quadro de colaboradores. Ocorre que o setor de distribuição de energia elétrica não é um segmento qualquer da atividade empresarial. É um serviço que requer mão de obra bem treinada e cuidados redobrados.
Ao que parece, a CEEE Equatorial não teve a atenção adequada a esse ponto. Soma-se à falta de qualificação a estrutura insuficiente para dar uma resposta satisfatória após eventos climáticos extremos. Não foi à toa que as reclamações contra a empresa junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) praticamente dobraram.
Outra peculiaridade do segmento de distribuição de energia é que a maioria esmagadora dos clientes não pode trocar de fornecedor se não estiver satisfeito - diferente de outros, como o da telefonia, para dar um exemplo. Dessa forma, são o poder concedente, as agências reguladoras e órgãos como o Ministério Público que devem atuar e pressionar a concessionária para que revise procedimentos e passe a oferecer segurança aos trabalhadores e um melhor serviço às mais de 1,8 milhão de unidades consumidoras dos 72 municípios gaúchos onde atua.
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