Um hábito curioso
Desconheço algo parecido no mundo. Milhares de pessoas rumam para o litoral todo ano, mas aqui no Rio Grande do Sul há uma peculiaridade que são os condomínios. Nada contra os condomínios no litoral gaúcho, muito pelo contrário. Eles se proliferaram de maneira espantosa nos últimos 20 anos. Uma legião se desloca para lá não apenas no verão, mas o ano inteiro.
Acredito que o que move essas pessoas são qualidade de vida e segurança. A convivência em comunidade é outra possível razão. Todo mundo quer esse tipo de vivência, por isso nos recolhemos, vivemos no nosso mundo, uma vida pacata, com vizinhos sociáveis. É uma característica humana histórica.
No ótimo livro O Despertar de Tudo, o arqueólogo David Wengrow e o antropólogo David Graeber, ambos britânicos, escrevem que desde a Era do Gelo o ser humano tende a viver em comunidade. O francês Alexis de Tocqueville visitou os Estados Unidos para conhecer o sistema político americano. Tocqueville era um admirador da democracia. Da visita que fez, resultou o livro Da Democracia na América. Uma das coisas mais relevantes captadas na obra foi a tendência dos americanos a viver juntos, numa espécie de sistema cooperativo.
A população de Capão da Canoa, segundo o IBGE, é de 54 mil habitantes. Mas a prefeitura estima que entre 250 mil e 500 mil pessoas passem o verão na cidade. Falo de Capão porque ali está a maioria dos condomínios. São mais de 50 condomínios residenciais em Capão. Mas eles já não estão só ali. Existem outras praias com o mesmo tipo de moradia e ambiente. Zero Hora noticiou, em 2022, que a construção de empreendimentos do gênero cresceu 38% em apenas dois anos. A maioria delas fica à margem da RS-389, conhecida como Estrada do Mar. Só na praia de Xangri-lá existem 34 condomínios fechados.
Conheço gente que, apesar de estar na praia, não vai ao mar. Deduzo que busquem reclusão. Muitos vivem em Porto Alegre num apartamento modesto. Mas a casa da praia tem estrutura muito maior. Quis saber o motivo e uma dessas pessoas me respondeu que o padrão do condomínio era esse. Mas a explicação vai além. A história mostra que a tendência das pessoas é viver em grupos, de preferência bem e em segurança.
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