quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024


08 DE FEVEREIRO DE 2024
CARPINEJAR

Um segundo negacionismo

Experimentamos um cruel negacionismo que resultou em mais de 700 mil mortes. O boicote aos efeitos da covid-19 se desenrolou diante de uma plateia planetária, que estava enfrentando o mesmo vírus. Mas prorrompe, silenciosamente, um negacionismo interno em relação à dengue. Quando o problema é localista, por peculiaridades sanitárias, sem os olhos do mundo, parece que o nosso descaso aumenta.

Tragédias nacionais não chamam tanto a atenção quanto tragédias internacionais. Vivemos uma nova epidemia, agora do Aedes aegypti. E não vejo nenhuma ação enérgica, eficaz e impositiva do governo federal para a aquisição de mais vacinas.

Cadê aquela postura diferente da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva no enfrentamento das calamidades? Temos 20 mil novos casos de dengue em 24 horas. Aproximamo-nos das 400 mil infecções. Já contabilizamos 40 mortes.

Se não é motivo para alerta vermelho, testemunharemos um segundo capítulo de ignorância letal no sistema de saúde. A escala da doença é vertiginosa. Não adianta a vacinação ocorrer de forma lenta e progressiva, respeitando o número limitado de doses produzidas pela indústria japonesa. Nosso parâmetro deveria ser o número de infectados, jamais a demanda farmacêutica.

Ficaremos encalacrados com a lotação dos hospitais. Dada a rápida multiplicação de casos, é placebo nos valermos apenas de cuidados fundamentais na rotina, como tampar as caixas d?água, descartar o lixo corretamente, manter as vasilhas dos animais sempre limpas, guardar garrafas e pneus em locais cobertos e retirar água acumulada dos vasos.

A prevenção necessita de vacina para todos. É imperioso buscar alternativas. Com a eventual carência da Qdenga, do laboratório japonês Takeda, que tal tentar a outra vacina também aprovada pela Anvisa, a Dengvaxia, do francês Sanofi? Ou quem sabe fornecer estrutura para apressar a produção nacional do Butantan? O instituto tem sua vacina prevista para o próximo ano e conta com a vantagem de ela ser administrada em dose única.

O Ministério da Saúde recebeu a primeira remessa da vacina contra a dengue, com cerca de 750 mil doses. Um segundo carregamento, com 570 mil doses, deve ser entregue neste mês. Haverá 5,2 milhões em nosso estoque, a serem distribuídas para duas aplicações com intervalo de três meses. É muito pouco, são doses para suprir 1,5% da população numa assistência ainda restrita à faixa etária de 10 a 14 anos.

Tamanha a procura, o imunizante Qdenga esgotou nos laboratórios privados, apesar do preço salgado que varia de R$ 300 a R$ 400 por dose. Não encontramos mais repelentes nas farmácias. O pânico se instalou definitivamente nas famílias brasileiras, a ponto de querermos identificar se os mosquitos que surgem são listrados ou não.

As cidades gaúchas têm a sua situação agravada por não terem sido incluídas nas localidades prioritárias para a campanha inicial de vacinação. Há infestação em 93% dos nossos 497 municípios. Apresentamos mais de 2,5 mil diagnósticos confirmados. Registramos dois óbitos, em Tenente Portela e Santa Cruz do Sul.

Será que não está na hora de o governo do Estado dar o exemplo e correr atrás do imunizante, mesmo que a responsabilidade seja da alçada do Ministério da Saúde? Porque simplesmente não existimos para o governo federal. Nosso ostracismo é acachapante.

CARPINEJAR

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