Vergonha
Não veremos a geração do fenomenal camisa 7, Vinicius Junior - arrebentando hoje no Real Madrid -, nas Olimpíadas. Trata-se de um desperdício para o espetáculo planetário, para a beleza do esporte, para a coreografia dos recordes.
Paris perderá de acompanhar Vinicius Junior na véspera de ser consagrado como melhor do mundo. Somente nesta temporada, o atacante fez 12 gols e sete assistências em 21 jogos (enquanto olhávamos para o centro do campo, preocupados em definir quem seria o novo Pelé, surgiu inesperadamente das pontas um novo Garrincha).
A culpa é da CBF, que catapultou ao comando da seleção o inexperiente Ramon Menezes. Ele jamais ganhou algo de relevante, a não ser o Campeonato Goiano da Série C e o Sul-Americano das categorias de base. Não deu conta do recado nem contando com os velozes Endrick e John Kennedy no ataque. Aliás, teve a ousadia de tirar Endrick contra a Argentina. É inexplicável o fiasco, confirmado pela derrota para o Paraguai, além da sofrida para a Argentina no duelo derradeiro.
O Brasil, medalhista nas últimas quatro edições, bicampeão olímpico, não terá chance sequer de disputar o pódio. Não ficávamos de fora dos Jogos Olímpicos desde Atenas, há 20 anos. É a quarta vez que não garantimos a vaga (1980, 1992, 2004 e 2024).
Nunca o futebol nacional foi tão destratado, tão humilhado, tão bagunçado. Vivemos o reinado do marketing da confusão, desencadeando baixa audiência e descaso do público.
O torcedor preferiu assistir ao seu time no regional a sintonizar a seleção no pré-olímpico. A desordem já começa no topo da hierarquia da CBF. O presidente, Ednaldo Rodrigues, foi cassado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em dezembro de 2023 e somente retornou ao cargo após liminar no Supremo Tribunal Federal, em janeiro deste ano.
Ou seja, temos um presidente eternamente provisório, que pode cair a qualquer momento de sua gestão. O presidente anterior, Rogério Caboclo, terminou afastado por causa de denúncias de assédio sexual. O vaivém na cadeira e as suspeitas de irregularidades causam uma série de turbulências. Não há como ditar um planejamento.
A Seleção principal, pentacampeã do mundo, amarga o sexto lugar nas Eliminatórias. Nos últimos confrontos, empatou com a Venezuela (1-1) e perdeu para Uruguai (2-0), Colômbia (2-1) e Argentina (1-0). Fernando Diniz apresentou um dos piores desempenhos da casamata canarinho, com 38,8% em seis confrontos, sendo substituído por Dorival Júnior.
O Brasil só vem servindo como saco de pancadas. Nas Eliminatórias, quebrou uma série de tabus e acumulou marcas negativas: a primeira derrota para a Colômbia, o fim da invencibilidade de 22 anos contra o Uruguai e a primeira derrota em casa (para a Argentina no Maracanã).
Antes cobiçada por qualquer treinador estrangeiro, a Seleção Brasileira terminou desdenhada pelo italiano Carlo Ancelotti. Nenhuma inteligência com experiência internacional, que preza o rigor dos contratos, quer essa bomba-relógio. Ninguém deseja esse caos de desmandos que apenas queima carreiras.
Extraviamos a nossa credibilidade secular. A indisciplina e a falta de calendário roubaram o viço de nossos talentos.
A mendicância é generalizada. Testemunhamos as eliminações precoces da seleção feminina e da masculina sub-20 em seus respectivos mundiais, sendo que a sub-20 caiu diante do inexpressivo combinado de Israel. Quando Galvão Bueno fala que é o pior ano da história do nosso futebol, o narrador não está exagerando. A CBF é uma vergonha.
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