OS NEM-NEM
O título talvez dê impressão que escrevo sobre os recém-nascidos, aqueles nenês pelos quais nos apaixonamos, sejam de onde forem ou a que setor social pertençam. Escrevo, porém, sobre os 11,5 milhões de jovens de 15 a 29 anos de idade (os nem-nem) que, no Brasil, nem estudam nem trabalham.
O número corresponde a quase três vezes a população do Uruguai. Entre nós, a maioria são mulheres, alcançando um total de 29,2%, enquanto os homens chegam a 16,95% do total.
Os nem-nem são consequência de situações e fatores diversos, mas - em qualquer caso - predomina o descuido. A pauperização cultural da classe média é o fator principal. Hoje, no Brasil, apenas sete em cada 10 jovens até os 19 anos concluem a educação básica. Estamos abaixo de países latino-americanos como Argentina, Costa Rica, Colômbia e Chile.
A vulgaridade das redes sociais agrava tudo. Mas há outra situação também grave. As deficiências no atual sistema educacional, em especial no ensino profissionalizante, entre nós visto com desprezo.
Alguns especialistas chegam a chamar a educação no Brasil de "fidalga", por ainda ensinar análise sintática e empanturrar os alunos obrigando-os a ler literatura portuguesa de séculos atrás como "trabalho de aula".
Um relatório de 2022 da Education at a Glance da Organização de Desenvolvimento Econômico (OCDE) da ONU apresenta o Brasil como o segundo país a ter o maior número percentual de nem-nem em todo o mundo. Só a África do Sul nos supera.
Hoje, em todo o Brasil, existem 47 milhões no Ensino Fundamental e somente 8,6 milhões no Ensino Médio, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas.
Em 2022, um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e do Sesi revelou que mais de 500 mil jovens com mais de 16 anos abandonam as aulas a cada ano naquele Estado.
Esta calamidade nos leva a ter saudade de Leonel Brizola e de seu empenho pela educação.
Com o título Malvina, a escritora Laura Peixoto descreve a vida de Júlia Malvina Hailliot Tavares, minha avó e professora, que, em sua escola, aboliu a palmatória com que os alunos eram castigados até os anos 1930. Foi precursora do movimento feminista e libertário no RS.
O livro será lançado às 18h, no dia 11 de julho, na Livraria Paralelo 30, à Rua Vieira de Castro, 48, em Porto Alegre.
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