Atualizada em 08/04/2023 - 09h00min
Claudia Tajes
Um pequeno passo para a humanidade, uma eternidade para duas pessoas que dormem e acordam juntas todos os dias
Faltaria espaço aqui para citar todos, o que mostra que um casamento duradouro não é tão raro assim
Beton Studio / stock.adobe.com - Felizes são os gatos, que têm sete vidas para se apaixonar
Estive em uma comemoração de 40 anos de casamento. Quarenta anos. Sei que tem gente casada há mais tempo que isso, alguns há muito mais tempo, mas ainda assim não consigo deixar de olhar com um espanto respeitoso para essas quatro décadas. Um pequeno passo para a humanidade, uma eternidade para duas pessoas que dormem e acordam juntas todos os dias.
Quanta coisa aconteceu em 40 anos? Países se separaram ou foram anexados na marra. Algumas moedas foram criadas e outras submergiram nos desmandos da economia. Estrelas foram descobertas, Plutão deixou de ser considerado um planeta, coitado. Novas espécies de bichos e de plantas foram encontradas, outras sumiram para sempre. As ombreiras saíram da moda, voltaram e, graças à deusa, caíram no esquecimento outra vez. Ainda que sempre se corra o risco de algum estilista resgatá-las do cemitério das tendências passadas. Crianças cresceram, adultos envelheceram, nasceu gente que não acaba mais no mundo. Livros maravilhosos foram escritos, e uma tonelada de livros ruins, também. Amores começaram e terminaram.
E a Cíntia e o Luiz Paulo seguiram casados. Sou amiga dos dois há uns bons 20 anos, categoria dente de leite perto de outros presentes à cerimônia – alguns que, desconfio, têm com os noivos reincidentes relações que vêm de vidas passadas. Ainda que um longo casamento por vezes me pareça, digamos, exótico, eu que tenho uma ficha corrida amorosa regular, casais longevos não faltam e muitos estavam na festa. A Tânia e o Felicinho. A Chris e o Ricardo. A Nora e o Jorge. A Porto e a Maldo. A Diana e o Mário. A Paula e o Eduardo. A Lucia e o Luis Fernando. A Luciana e o Carlos. A Josa e o Zé. O Nestor e a Lúcia. Faltaria espaço aqui para citar todos, o que mostra que um casamento duradouro não é tão raro assim.
Raros são os encontros. Como é de praxe nos recasamentos, a Cíntia e o Luiz Paulo trocaram novas alianças e renovaram seus votos para mais algumas décadas. Os dois prometeram continuar cuidando um do outro, inventando reformas na casa, viajando sempre que o dólar permitir e lendo e escrevendo vida afora. Pausa para os nossos comerciais. A Cíntia está começando mais uma edição da sua clássica Oficina do Subtexto, que já revelou muitos autores e que publica um livro ao final do curso. As aulas são online e as informações você consegue aqui: cintiamoscovich@gmail.com
Entre lágrimas e risos, só sei que a festa foi até as seis da manhã e o Luiz Paulo ainda bebeu a última cerveja antes de dormir e entrar oficialmente no quadragésimo-primeiro ano do casamento. Encerro com os votos da Cíntia para ele: “No mais, prometo continuar fazendo o que sempre fiz, porque foi isso o que me trouxe até aqui. Sem prestar atenção a promessas, prometo te dar o restante da minha vida. Porque a maior parte dela já tiveste – e foi bem bom”. Adoro continuações felizes.
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