MANOBRA COMPROMETEDORA
A operação da Polícia Federal que investiga um grupo suspeito de falsificar cartões de vacinação nos sistemas do Ministério da Saúde é reflexo direto do negacionismo comandado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia que tirou a vida de mais de 700 mil brasileiros. De acordo com os investigadores, o objetivo da fraude era ludibriar as restrições impostas aos não vacinados adotadas por organizações internacionais e governos para proteger suas populações de eventuais contágios. Nesse contexto, a manobra para registro e emissão de atestados forjados, além de configurar um crime inquestionável contra a saúde pública, compromete a imagem do ex-mandatário como liderança comprometida com a legalidade.
Falsificar certificados de vacinação não é um delito menor, como tentam fazer crer apoiadores mais radicais do ex-presidente na tentativa de menosprezar a operação policial e de rotulá-la como simples perseguição política. Independentemente da responsabilidade judicial do ex-mandatário, que ainda precisa ser devidamente apurada com estrita observância ao direito de defesa, não há dúvida de que a fraude promovida por seus assessores diretos é gravíssima. Envolve corrupção de servidores públicos para a inserção de dados falsos no sistema de informação do Ministério da Saúde, burla as restrições sanitárias internacionais vigentes no período agudo da pandemia e inclui até o envolvimento de crianças em irregularidades.
Ainda de acordo com a investigação policial, os rastros deixados pelo tenente-coronel Mauro Cid, antigo ajudante de ordens do ex-chefe do Executivo, demonstram reiteradas ações para dar status de imunizados a familiares e integrantes do núcleo presidencial que precisavam viajar ao Exterior. Para isso, o homem apontado como mentor do esquema delituoso usou a influência de seu cargo e envolveu uma série de pessoas com acesso ao sistema do Ministério da Saúde para registrar os dados falsos e, assim, conseguir as certidões de vacinação. Conforme nota da Polícia Federal, as inserções fraudadas tiveram como consequência a alteração da verdade sobre fato juridicamente relevante, dando condição de imunizado contra a covid-19 aos beneficiados.
Essas pessoas, evidentemente, ganharam salvo-conduto para circular em ambientes restritos e até propícios à contaminação, colocando em risco a saúde e a vida de outros indivíduos. Ou seja, o "jeitinho" encontrado pelo assessor presidencial para driblar a burocracia sanitária fraudando registros públicos coloca sob suspeita a própria metodologia de governo de seus superiores.
Mesmo que o senhor Jair Bolsonaro comprove que desconhecia as irregularidades praticada por seus subordinados, não pode haver dúvida de que sua posição pessoal contra a imunização - reiterada mais uma vez agora, depois da operação policial - é que deu respaldo aos fraudadores, da mesma forma como sua dificuldade em reconhecer o resultado eleitoral impulsionou o extremismo na manifestação golpista de 8 de janeiro. A responsabilidade de um líder transcende a sua posição pessoal.
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