24 DE MAIO DE 2023
+ ECONOMIA
Descontada inflação, juro no Brasil é o maior em 17 anos Natura usa IDH no apoio a consultoras
Nove anos atrás, a Natura criou um indicador para avaliar o bem-estar de suas consultoras de beleza - boa parte das vendas da marca ainda é feito por esse contato direto. Com a consultoria do gaúcho Flávio Comim, que foi economista-sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e responsável no Brasil pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criou seu próprio indicador, chamado IDH-CN. Em 2022, esse termômetro apontou melhora de 3,6%, a maior desde sua criação. Na Região Sul, foi de 3%.
- A sustentabilidade começou sob o ponto de vista da regulamentação, era preciso limpar o rio porque estava sendo exigido por lei. Depois, passava por compensar impacto negativo, por exemplo com a compra de créditos de carbono. Há quatro ou cinco anos, começou a ficar claro que compensar não basta. É preciso pensar no impacto positivo do negócio - afirma Diana Guimarães, gerente de mercado Sul, que apoiou a criação do indicador.
Detalha que não se trata só de medir, mas dar ferramentas para atuar sobre a realidade das consultoras para melhorá-la:
- A partir das primeiras medições, passamos a atuar no letramento digital e na educação financeira, além de criar ferramentas como o Natura Avon Pay, para facilitar o acesso das consultoras a pagamento digital.
O indicador é calculado a cada dois anos em três dimensões: saúde, conhecimento e trabalho. Segundo Diana, em 2022 houve avanço de 8,9% em conhecimento e 6,7% em saúde, mas piora de 7,2% em trabalho.
- É importante para as consultoras ter noções de educação financeira, para entender que o valor que vende é diferente da quantia que fica para ela. Um dos resultados do indicador foi a criação de um link para pagamento parcelado, que pode ser enviado ao cliente. As iniciativas voltadas à cidadania, detalha Diana, envolvem desde a campanha Amazônia Viva, que promove o engajamento não só das consultoras, mas de suas comunidades, e a que incentiva a volta dos jovens à escola, depois da grande evasão - especialmente no Ensino Médio - no auge da pandemia.
Consumidores adiam compras, empresas retardam projetos, mas investidores estrangeiros fazem a festa com o chamado diferencial de juros, porque o Brasil está pagando muito acima da média dos emergentes para quem investe aqui. O Brasil tem o maior preço do dinheiro também em relação a si mesmo em quase duas décadas - 17 anos. Antes de prosseguir, a coluna explica que há duas maneiras de apurar o juro real, sempre considerando a taxa Selic nominal e a inflação:
Ex-post, que desconta a inflação dos últimos 12 meses
Ex-ante, que desconsidera as projeções de inflação nos próximos 12 meses.
Com ajuda do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, que fez os dois cálculos do juro real -, a coluna usou o primeiro método não apenas por ser mais fácil de entender, mas também por representar menor margem de erro.
O país não é o mais arriscado do mundo, portanto não deveria ter o maior juro do planeta. E este não é o momento de maior crise que a economia brasileira já atravessou nos últimos 17 anos. Então por que, afinal, a taxa real é tão alta?
O Brasil usa o "regime de metas de inflação", pelo qual o Conselho Monetário Nacional (CMN) define a meta e o Banco Central (BC) deve cumpri-la. Para este ano, o centro é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto acima e 1,5 ponto abaixo. Os acrescidos da variação, por sua vez, são o "piso" (tolerância para menos, ou 1,75% neste ano) e o "teto" (tolerância para mais, ou 4,75% neste ano).
Além desses limites numéricos, prevê que o balizador para alcançar ou não esses números é a inflação "cheia" - o cálculo completo - do IPCA, indicador calculado pelo IBGE para famílias com renda de até 40 salários mínimos (polpudos R$ 52 mil). Neste momento, a inflação acumulada em 12 meses está em 4,18% - abaixo, portanto do teto do regime de metas adotado pelo Brasil. Para sustentar que é preciso ter cuidado com a calibragem do maior juro do mundo e das duas últimas décadas, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a média dos núcleos de inflação está em 7,5%, "um número bastante alto, muito acima da meta".
Detalhe: sua missão é balizada pela inflação cheia, não núcleos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva erra, política, econômica e institucionalmente, quando ataca o presidente do BC e o responsabiliza pelo juro alto. Mas o presidente do BC precisa ser mais técnico ao justificar a Selic estratosférica. Ou, em algum momento, admitir que chegou a hora de baixá-la.
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