Trancos e barrancos
A galera pega no pé das obras da Copa que ainda não estão prontas. Mas existe um caso em Porto Alegre mais bizarro, que beira o sobrenatural. Me coloco aqui como cidadão, sem acesso a informações privilegiadas e nem contatos diretos com autoridades. Ou seja, não entrevistei ninguém. Apenas vivo e observo, na minha nova posição de não produtor de conteúdo jornalístico diário. Imagine uma avenida em obras há anos. Só que, quanto mais mexem nela, pior fica. O nome desse fenômeno é Nilo Peçanha, uma via fundamental, que liga áreas de comércio, escolas, casas e edifícios em Porto Alegre. O que acontece ali é inexplicável. Cavam, tapam, cavam, tapam, cavam, tapam e, quando parece que acabou, cavam e tapam outra vez. Nem me refiro aqui aos congestionamentos e aos custos, mas sim ao ridículo da situação.
É um tal de cone, poeira, buraco, tranqueira e gente trabalhando, cavando e tapando sem parar. Quem tem mais de 50 anos vai me entender: trancou o disco e a agulha pula de volta para o mesmo ponto depois de algumas notas repetidas.
Arrumam o asfalto e, algum tempo depois, estragam novamente. É fenomenal: quanto mais o tempo passa, mais parece faltar para a obra estar pronta.
Trafegar pela Nilo Peçanha é uma aventura. Mal sinalizada, cheia de armadilhas, quase uma terra de ninguém, com motoristas afoitos e motoboys furando a fila que tenta se formar antes dos gargalos. Certamente, existe uma explicação. Sempre há. Seja qual for, é insuficiente, sob o ponto de vista de uma lógica mínima de planejamento e execução de uma obra.
Essa situação me faz lembrar uma outra empreitada épica da Capital, a escavação de uma trincheira que foi interrompida quando descobriram uma rocha no meio do caminho. Um mineral que, certamente, estava lá havia alguns milhares de anos, mas que surpreendeu a turma encarregada do projeto. "Meu Deus, uma rocha que pesa toneladas surgiu de repente no meio do caminho", imagino-os exclamando.
Como cidadão, torço para que a bagunça na Nilo Peçanha termine logo. Pelos incômodos e os prejuízos aos comerciantes da região. Enquanto isso, convido todos para jogar videogame ao vivo, no asfalto sofrido de uma avenida maltratada. E quando cair num buraco ou em um engarrafamento, mantenha a calma. Logo ali, alguns metros à frente, mais um obstáculo irá desafiar a sua perícia e a sua paciência.
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