quinta-feira, 4 de maio de 2023


04 DE MAIO DE 2023
ZÉ VICTOR CASTIEL

O que faltava em meu projeto de vida

Em momento algum de nossa infância e início de adolescência imaginamos para que lado a vida vai nos levar. Temos lá os nossos sonhos, é verdade. O meu, muito cedo, era ser artista de teatro. Ao me formar na faculdade de Direito da PUCRS em 1981, por motivos que até hoje não compreendo, de certa forma renunciei ao meu sonho. Cheguei a trabalhar como advogado, mas nunca naqueles três primeiros anos de formado me sentia feliz ou certo da atitude que havia tomado.

Parti, então, para uma luta quase inglória para tentar buscar novamente o sonho de ser artista. Tinha um projeto que consistia em levar as duas profissões concomitantemente. Isso acabou acontecendo, e até me sentia feliz. Quando casei, no entanto, a vontade de fazer apenas aquilo de que gostava foi ficando cada vez mais forte dentro de mim. Acabei, então, optando por ser apenas artista.

Houve a substituição dos meus planos, na medida em que meu projeto passou a ser o de ter uma família e levar muito a sério minha nova profissão. Consegui mergulhar profundamente nos afazeres artísticos e, de certa forma, fazer com que vivêssemos bem com o fruto de nossos trabalhos.

Muitos foram os momentos de trabalho insano, medo e cansaço. Muitos foram os momentos de alegria. A vida nos proporciona um vaivém completamente irregular, mas que, se enfrentado de forma metódica, pode representar trajetórias agradabilíssimas. Esse projeto incluía filhos, que vieram e hoje são adultos e meus grandes orgulhos. Com eles aprendi a responsabilidade de ser uma pessoa trabalhadora e incansável no sentido de entender que existiam pessoas que dependiam de mim.

Mesmo assim, o projeto traçado quando optei por deixar de ser advogado para trabalhar somente como artista estava incompleto. Faltava alguma coisa, que eu não conseguia saber o que era. Nesta semana, porém, fui convidado por minha filha e meu genro para uma conversa. Ali, sentados na sala ao lado da minha churrasqueira, fui comunicado de que serei avô. Vovô Zé. É isso que faltava.

Talvez agora eu vá experimentar uma sensação que irá completar aquele projeto que se iniciou quando eu era apenas uma criança que jogava bola no colégio Farroupilha e não tinha maiores preocupações com as responsabilidades da vida. Ser avô talvez constitua a maior felicidade de minha vida. Por essa razão, amigos, estou eu aqui esperando ansiosamente a chegada do mês de outubro para pegar nos braços a doce Tereza, minha netinha, que chegará ao mundo já com a virtude de ter resolvido o mistério de eu saber o que ainda faltava em meu projeto de vida.

ZÉ VICTOR CASTIEL

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