Pedidos de green card crescem no Brasil
Maior número de green cards para brasileiros havia sido em 2019, com 19,8 mil documentos emitidos -
MAICON HINRICHSEN/PALÁCIO PIRATINI/JCBárbara Lima
A busca por estudar e trabalhar nos Estados Unidos tem aumentado entre os brasileiros. Segundo o Departamento de Segurança Interna daquele país, cerca de 23,5 mil cidadãos conseguiram o documento norte-americano de residência permanente - o chamado green card - em 2022, o que representa uma alta de 28,5% sobre o ano anterior e o maior volume da série histórica. Com isso, o Brasil foi o nono país que mais recebeu o documento, atrás de países como México (138 mil), Índia (125 mil) e China (68 mil). O maior número de green cards emitidos para brasileiros havia sido em 2019 (19,8 mil).
Em 2023, esse número deve continuar crescendo. E os motivos para este fenômeno podem ser explicados por alguns fatores excepcionais, como o acúmulo de demanda represada durante a pandemia de Covid-19. Mas não só. Segundo o especialista em expatriação e internacionalização de negócios, Jorge Botrel, a crescente procura pelo green card já acontece há pelo menos seis anos e se intensificou com as medidas de flexibilidade do governo de Joe Biden, do partido Democrata, em contraste com a política de imigração do ex-presidente Donald Trump, do Republicano.
"Além disso, fizemos uma pesquisa que apontou que o principal motivo para deixar o Brasil continua sendo a violência, seguido de outros fatores internos, como política e economia", ponderou Botrel. No cenário externo, ele considera que os brasileiros também estão, desde o ano passado, com oportunidade de acelerar o processo de visto EB-2 - national interest waiver ao pagar uma taxa de US$ 2,5 mil e que este é um elemento que colabora para o aumento nos pedidos de residência permanente na América do Norte.
Idioma e cultura ainda são desafios para brasileiros
O especialista ressalta, no entanto, que os desafios do idioma e da cultura seguem exigindo adaptações dos cidadãos brasileiros que procuram nos Estados Unidos uma nova vida. "Os norte-americanos são mais objetivos, e os brasileiros não são tão rígidos, mas a criatividade e a dinâmica para resolver problemas chama a atenção do mercado norte-americano. O brasileiro é muito reconhecido por ser esforçado e resiliente", considerou.
No escritório onde trabalha, Botrel explica que, somente no início deste ano, a demanda por vistos green card já subiu 40% em relação aos primeiros meses de 2022. "Demonstra que é um mercado que está aquecido", apontou.
O perfil de brasileiros que têm solicitado o documento é bem específico: adultos entre 35 e 55 anos, profissionais qualificados, geralmente com uma vida financeira estável e que buscam investir na educação dos filhos no exterior. "É a fuga de cérebros, como chamamos. São pessoas com algum nível de fluência em inglês, com dinheiro para investir e com um bom nível cultural".
O fenômeno de fuga de cérebros é explicado por dois motivos principais: a escassez de mão de obra nos EUA, que inflaciona salários e estimula a contratação de imigrantes, e a deterioração político-econômica do Brasil na última década. Nesse sentido, as carreiras em alta no EUA são enfermagem, marketing, finanças e na área da tecnologia. "Os brasileiros, por saberem falar português e, muitas vezes, espanhol, conhecem a cultura latina de fazer negócios e são muito procurados por esses mercados", enfatizou o especialista em expatriação e internacionalização de negócios.
Pode requisitar o green card quem tem vínculo familiar com norte-americanos, contratados por programas do governo ou por carreira consolidada, quem deseja aplicar investimentos acima de US$ 800 mil nos EUA, quem tem habilidade extraordinária, como medalha olímpica ou um prêmio consagrado, ou, ainda, executivos de alto escalão.
Naturalizações também crescem em 2022
Um outro levantamento feito pelo escritório de advocacia AG Immigration, com informações obtidas no Departamento de Segurança Interna, e publicado pela Agência Brasil, revelou ainda que a quantidade de brasileiros que obtiveram a cidadania americana também bateu recorde em 2022. Ao todo, foram 12.983 naturalizações, aumento de 5,7% sobre as 12.448 de 2021 - até então, a máxima histórica. O Brasil foi o 19º país que mais teve nacionais obtendo a cidadania dos EUA, atrás de México (127 mil), Índia (64 mil), Colômbia (17 mil), Irã (14 mil) e Bangladesh (13 mil), por exemplo.
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De acordo com outro levantamento, com base em números oficiais do Departamento de Trabalho Norte-americano, o Brasil ocupa a sétima posição entre os países que mais tiveram cidadãos indo trabalhar nos EUA. Ao todo, 865 brasileiros foram contratados por empresas norte-americanas no ano fiscal passado. Lideraram o ranking Índia (22.967), China (4.039), México (1.779), Filipinas (1.039), Canadá (1.001) e Coreia do Sul (945). Em média, os brasileiros contratados nos Estados Unidos receberam um salário anual de US$ 72 mil - o equivalente a R$ 30 mil por mês, na cotação atual de cinco reais para cada dólar. Os menores salários identificados pela pesquisa foram para o cargo de babá (R$ 7.314,00 por mês), auxiliar de limpeza (R$ 7.384,00) e preparador de comida (R$ 7.800). A maior remuneração foi para um cardiologista contratado por uma clínica médica, com R$ 208.333,00 mensais. Em geral, os maiores salários entre os brasileiros foram para profissionais da medicina, administração, engenharia e economia.
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