25/05/2023 - 17h02min
Rosane de Oliveira
Lira mostra a Lula quem manda na banda da Câmara
Ala conservadora retalhou a medida provisória que trata da reorganização administrativa e esvaziou Ministério do Meio Ambiente. No que depender dos deputados que rezam pela cartilha de Lira, Lula não terá autonomia para aplicar seu plano de governo
Como no poema de Augusto dos Anjos, na relação do Congresso com o presidente Lula "a mão que afaga é a mesma que apedreja". Em um dia, o governo comemora o sucesso da articulação do presidente da Câmara, Arthur Lira, com a aprovação da nova regra fiscal com 372 votos favoráveis, quórum mais do que suficiente para emendar a Constituição. No outro, como se fosse uma ressaca de vinho ruim, vê a ala conservadora e majoritária da Câmara destruir os pilares da política ambiental do governo, com os esvaziamentos dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas.
Nunca tinha se visto uma medida provisória que trata de reforma administrativa ser tão retalhada. Em geral, o Congresso apenas homologa as mudanças de estrutura que o novo governo propõe.
Desta vez, foi diferente. A Câmara passou a boiada, como diria o ex-ministro Ricardo Salles. No que depender dos deputados que rezam pela cartilha de Lira, Lula não terá autonomia para aplicar seu plano de governo, principalmente naquilo que seria o cartão de visitas de sua gestão aos olhos do mundo, a política de proteção da Floresta Amazônica, do Pantanal, da Mata Atlântica e do bioma Pampa.
Lula não tugiu nem mugiu diante da desconstrução dos ministérios comandados por Marina Silva e Sônia Guajajara. Não se sabe se tem alguma estratégia para reverter a derrota ou se está conformado em ser rainha da Inglaterra, tendo Lira como primeiro-ministro de fato.
Não por acaso, na internet multiplicaram-se os memes que mostram Lula refém de Lira. O mais emblemático é o que diz "faz L. De Lira". O recado está dado: o governo não tem maioria sólida no Congresso. Tem aliados de ocasião, para projetos específicos ou que trocam votos por emendas. Maioria é outra coisa.
É fato que o presidente tem críticas aos ambientalistas que atrasam obras querendo preservar um achado arqueológico ou um animal ameaçado de extinção. Nos dois primeiros mandatos, Lula muito criticou o atraso em obras do PAC por questões ambientais. Era comum debochar dos bichos e dos "cacos de pratos" que atrasavam ou impediam a realização de certas obras. No Rio Grande do Sul, o alvo era a perereca que empacava duplicação da BR-101.
Talvez isso explique por que resistiu em entregar o Ministério do Meio Ambiente a Marina e ofereceu a ela o posto de Autoridade Climática. Marina rejeitou, imaginando que no ministério teria autonomia, mas não teve forças nem para resistir à pressão dos aliados e dos colegas de Esplanada.
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