quarta-feira, 17 de maio de 2023

17 DE MAIO DE 2023
CAPA

Terra de boa música e grandes amigos

Beto Guedes, Flávio Venturini e Lô Borges, três dos maiores expoentes da música popular criada em Minas Gerais, realizam show amanhã na Capital

Há coisas que a ciência não explica, que só a música pode ajudar a entender. Quem se atreveria a explicar a geração de músicos extraordinários que despontou em Minas Gerais na década de 1970, representados na figura de Milton Nascimento? Seria algum tipo de conjunção planetária? Um ingrediente secreto no pão de queijo? Não importa, não é algo que se explique. Só se ouve - e se celebra, é claro.

Uma boa oportunidade de fazer os dois chega a Porto Alegre amanhã, quando, às 21h, o Auditório Araújo Vianna recebe o projeto Música de Minas, uma reunião de três grandes nomes daquela geração: Lô Borges, que idealizou o Clube da Esquina junto com Bituca; Beto Guedes, que atuou como músico e compositor nos discos do Clube; e Flávio Venturini, ex-integrante das bandas O Terço e 14 Bis, que também esteve ligado ao Clube enquanto movimento musical.

Os artistas sobem ao palco individualmente para apresentar canções que marcaram suas carreiras e a música brasileira. É o que explica Lô Borges.

- Em uma mesma noite, o público é contemplado com três shows. Isso é o mais bacana do projeto - diz. - Cada um de nós viaja com a sua banda e cada um faz o seu show. Não são shows inteiros, é claro, ou ficaríamos seis horas no teatro (risos). Mas o resultado fica muito bonito e especial.

Coro

Lô Borges traz canções como Um Girassol da Cor de Seu Cabelo, Paisagem na Janela, Trem Azul, Nuvem Cigana e Trem de Doido. Beto Guedes, por sua vez, apresenta clássicos de sua autoria como Amor de Índio, Sol de Primavera e Equatorial, parceria com Lô. Já Venturini interpreta Todo Azul do Mar, Te Amo Espanhola, Criaturas da Noite e outras de suas composições de sucesso.

Para os três, o espetáculo é uma oportunidade de voltar aos 20 e poucos anos e reviver a Era de Ouro da música mineira. Não é algo fácil de ocorrer, pois, com carreiras individuais de sucesso, Lô, Beto e Flávio quase não têm tempo para se encontrar, seja na vida ou nos palcos. Mas estão fazendo um esforço de agenda para colocar na estrada esse presente para o público. Isso porque, conforme Lô Borges, trata-se de uma verdadeira reunião de sucessos:

- Eu até brinco que quem teve a ideia (o produtor musical Barral Lima, amigo dos três) não foi assim tão original, pois é algo muito fácil de dar certo (risos). É um show para cantar do início ao fim.

O músico deseja ouvir o coro dos fãs porto-alegrenses ecoar pelo Araújo Vianna, após seis anos de sua última passagem pela Capital - em 2017, para celebrar os 45 anos do seu "disco do tênis". Mesmo tendo lançado álbuns de inéditas nos últimos anos - e tendo trabalhos novos garantidos até 2027, como revelou à reportagem -, ele vai cantar aquilo que as pessoas mais querem escutar: Clube da Esquina. Não é nenhum sacrifício, Lô garante.

- Eu não fico nessas de tocar músicas que o público não conhece para algum tipo de deleite pessoal. Sei que as pessoas querem ouvir as músicas que elas reconhecem, e eu gosto de tocar aquilo que as pessoas cantam junto - afirma. - Agora você imagina juntar as canções que as pessoas cantam junto de Lô Borges, Beto Guedes e Flavio Venturini, a quantidade de música boa que tem - diverte-se.

Apesar de reconhecer a importância que ele e os conterrâneos têm para a música brasileira, Lô Borges é modesto. Crê que o sucesso de sua geração é fruto de uma semente plantada há muito tempo pelas terras de Minas Gerais, onde brota café e música de qualidade.

- Antes do Clube da Esquina, já havia toda uma geração de músicos em Belo Horizonte, gente que fazia rock, que fazia MPB, bossa nova, jazz. Sempre houve uma efervescência musical muito forte, e a gente foi uma continuação disso. Acredito que o que fizemos foi honrar essa gente toda - reflete Lô Borges.

 CAMILA BENGO

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