sexta-feira, 5 de maio de 2023

Ascensão e queda do criminoso império farmacêutico

Ascensão e queda do criminoso império farmacêutico


//REPRODUÇÃO/JC
Império da Dor (Editora Intrínseca, 544 páginas, R$ 83,00, tradução de Bruno Casotti e Natalie Gerhardt), de Patrick Radden Keefe, premiado repórter na revista The New Yorker, foi best-seller do The New York Times e venceu o prêmio Baillie Gifford na categoria de não ficção. Keefe é autor de outros três best-sellers, entre os quais o aclamado Rogues: True Stories of Grifters, Killers, Rebels and Crooks e esta sua obra é considerada um clássico moderno do jornalismo investigativo, que se pode ler como se fosse um romance.
Com base em pesquisas exaustivas e repleta de destemida determinação moral, a investigação de Keefe é meticulosa e instigante, e revela - em síntese - a ascensão e queda de uma das mais poderosas famílias americanas e seu criminoso império farmacêutico.
A narrativa inicia na Grande Depressão, com a história de três irmãos médicos: Raymond, Mortimer e Arthur Sackler. Este último trabalhava num manicômio e pesquisava drogas. Tinha talento para a publicidade e o marketing e idealizou a venda do Valium (um revolucionário tranquilizante) para uma grande farmacêutica.
Com a primeira fortuna da família, que se tornou uma das mais ricas do mundo, comprou a Purdue Pharma, depois dirigida pelos irmãos.
Quarenta anos depois, Richard, filho de Raymond, assumiu a Purdue e usou as mesmas técnicas de venda do Valium para comercializar o OxyContin, um produto bem mais poderoso. O medicamento gerou US$ 35 bilhões, mas desencadeou uma crise de saúde pública que matou centenas de milhares de pessoas.
Patrick Keefe passou cinco anos debruçado sobre os segredos da dinastia Sackler: complicadas relações familiares, fluxos de dinheiro e as duvidosas práticas corporativas, manipulação de médicos e influência sobre órgãos públicos, além, é claro, do menosprezo pela capacidade viciante da droga.
Enfim, a obra foi um dos livros favoritos de Barack Obama em 2021 e mostra até onde vai a ganância, a megalomania e o descaso com vidas humanas. 

Lançamentos

As Heroínas da Senzala (Editora AGE, R$ 69,90, 456 páginas), romance de Clodoveu Machado, tem foco principal o heroico papel da mulher negra, vítima mais sórdida da escravidão, mas mostra, também, em detalhes, a funesta trajetória dos negros caçados na África para serem mola propulsora dos ciclos econômicos brasileiros.
Histórias Íntimas- Sexualidade e Erotismo na História do Brasil (Editora Planeta, 256 páginas, R$ 76,90) da premiada professora da USP, Mary Del Priore, mostra como a sexualidade foi mudando ao longo da história, influenciada por questões políticas, econômicas e culturais.
Ser Mulher e Outros Ensaios (L&PM Editores, R$ 55,00, 200 páginas,) de Anaïs Nin, celebrada contista, romancista e ensaísta, traz vinte e sete textos sobre mulheres, homens, psique e erotismo feminino, filmes e músicas. "Não existe padrão para a nova mulher. Ela terá de descobrir o próprio caminho.", diz a autora.

As muitas vidas de Roque Jacoby

Quantas vidas pode viver uma pessoa? Quantos caminhos pode um ser humano trilhar? Quantas pessoas pode conhecer? Quantos pensamentos, viagens, empreendimentos, sonhos e ações são possíveis em uma existência? Essas questões me vêm à mente depois de ler a bela autobiografia Valeu a Pena – Memórias escritas na pandemia (Besourobox, 224 páginas, R$ 50.00) de Roque Jacoby, tradutor, revisor, empresário de distribuição de livros, editor, livreiro, dirigente da Câmara Rio-Grandense do livro, político, administrador cultural e agora escritor. Roque personifica como poucos o melhor da cultura gaúcha, especialmente no setores editorial-livreiro e na política cultura, nos quais atuou por décadas.
Em tom corajoso, confessional e bem-humorado, Roque revela, sem medo e com honestidade, gratidão e amorosidade, os muitos caminhos que trilhou, desde a infância em Tangará, cidadezinha do centro-oeste catarinense, entre Joaçaba e Videira, até chegar a Secretário de Cultura do Estado do RGS e do Município de Porto Alegre. Dos dez aos vinte anos Roque foi seminarista e noviço e, após profundas reflexões, buscou nova vida em São Paulo, ingressando na Editora Ática. Tempos depois veio para Porto Alegre onde liderou, por dezessete anos, a Ática, a maior editora do Brasil em 1987.
Em 1977 Roque criou a Editora Mercado Aberto e, em 1986 a primeira das três casas da Livraria Mercado Aberto. Entre um empreendimento e outro, as inovações na Feira do Livro e a Presidência da Câmara Rio-Grandense do Livro, Roque sempre se dedicou, com intensidade e paixão, à família, aos amigos, às pescarias e às atividades no lendário sítio Te Arremanga e Vem, em Arroio dos Ratos, no qual voltou a ser menino atrás de natureza, passarinhos e frutas silvestres como o araticum, o ingá e o pinhão.
Entre os capítulos da biografia Roque narra os tempos, as vivências e fatos da pandemia, período em que foi escrito o livro. Roque fala de tudo, acontecimentos felizes e outros nem tanto, especialmente sobre as delícias e as agruras da vida pública. Para não enlouquecer durante a pandemia, como disse Roque, ele teve a ideia de registrar suas muitas vidas, seus muitos amigos e acontecimentos e deixar um legado para nós todos. Roque ainda tem muito o que viver, mas o tesouro já está aí, mostrando que tudo vale a pena, se a alma não é pequena, como escreveu o Fernando Pessoa.
Como disse o amigo e compadre Plínio Carlos Baú, “o Roque não é simplesmente um amigo: ele é muitos. É um continente, no sentido de conter, que alberga todos os amigos do mundo. “ É verdade . Tive o prazer e a honra de ter sido Conselheiro Estadual de Cultura no governo Rigotto, quando o Roque foi o Secretário da Cultura e o Antônio Hohlfeldt (outro que é muitíssimos) o vice-governador. Na real, conheci o Roque lá por 1976, quando iniciei a escrever sobre livros em jornais e ia na Audipel, na rua Santo Antônio, buscar os livros da Ática para resenhar. Roque me ofereceu o livro de contos A Morte de D.J. em Paris de Roberto Drummond, para início. Baita início.

A propósito

O livrão do Roque, que será lançado dia 8 de maio, 18h, no Chalé da Praça XV, é claro que não poderia deixar de conter depoimentos de familiares e amigos. Imelda, irmã, Rafaela, filha, Márcia Lang, parceira e Julia, a netinha querida, são as cerejas do bolo, junto com Neri Volpatto, Geraldo Ache, Waldir da Silveira, Plínio Baú, Alfredo Meneghetti, Charles Kiefer, Sergius Gonzaga, Paulo Ledur, Jiro Takahashi, Antônio Hohlfeldt, Ana Lampert e outros amigos e admiradores do autor. Muitos amigos, muitas emoções, palavras lindas. Roque, o ser humano, o homem público, o empresário e o líder classista e muitos outros Roques mostram que a vida vale a pena. O resto não é silêncio.

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