terça-feira, 9 de maio de 2023


A guerra na Ucrânia e as versões sobre o 8 de janeiro

Ex-chanceler e assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim deve ser recebido amanhã pelo mandatário ucraniano, Volodimir Zelensky. Será a oportunidade do principal conselheiro do Planalto em assuntos externos ver com os próprios olhos os horrores causados pela ofensiva russa.

Mais do que um gesto, a visita deveria servir para que Lula não voltasse à dubiedade em relação às causas da guerra. Várias vezes o presidente brasileiro também responsabilizou a Ucrânia, país agredido e invadido, pelo conflito. Sim, nas votações na Organização das Nações Unidas (ONU) o Brasil tem condenado a invasão russa. Mas as palavras do presidente têm grande peso. 

Depois, em recente passagem por Portugal e Espanha, Lula modulou o tom, ressaltando que "o governo" reconhece a culpa da Rússia. Mas o mal-estar persiste e a ida de Amorim a Kiev, após passar por Moscou em março, faz parte desse esforço de tentar desmanchar a impressão de alinhamento a Vladimir Putin. Isso não exclui, claro, que conversem sobre saídas para acabar com a guerra.

Ok, o Brasil tem uma posição delicada pelo fato de a Rússia ser um dos membros dos Brics. Lula também sustenta que o fato de o Ocidente ajudar a Ucrânia com armamento sem ao menos publicamente falar em paz dificulta uma negociação que leve ao cessar-fogo definitivo. Mas não há como esquecer que um país invadiu e o outro foi invadido. A Ucrânia não tem opção, a não ser se defender.

É possível comparar a situação com as versões delirantes sobre o 8 de janeiro. Bolsonaristas tentam fazer colar a versão de que o governo Lula, vítima dos ataques golpistas, se omitiu propositalmente para facilitar a depredação. Nutrem ainda a suspeita dos infiltrados de esquerda, sob medida para os suscetíveis ao viés de confirmação (tendência a acreditar apenas no que confirma as suas crenças). Certamente Lula vê tudo isso como um absurdo. E é. Pois Zelensky acha o mesmo em relação a teses que igualam Rússia e Ucrânia.

Se Lula quer projeção internacional, o melhor seria se dedicar à proteção da Amazônia e apresentar resultados. É a grande expectativa do mundo em relação Brasil.

CAIO CIGANA INTERINO 

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