17 DE ABRIL DE 2018
DIÁRIOS DO MUNDO
A ARTE DE COLECIONAR INIMIGOS
Lembrei do sucesso dos Titãs em 2001 A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana ao observar o que foi liberado para a imprensa sobre o novo livro que se propõe a implodir a administração Donald Trump. A Higher Loyalty Truth, Lies and Leadership (Uma Lealdade Maior Verdade, Mentiras e Liderança) é mais uma obra que promete contar os meandros da atual Casa Branca a partir de um ponto de vista privilegiado, desta vez do ex-diretor do FBI James Comey. A Higher Loyalty chega hoje às livrarias nos EUA, menos de três meses depois do estardalhaço midiático de Fire and Fury (Fogo e Fúria), que, ao desembarcar no Brasil, já tinha ares de notícia velha.
Comey e Steve Bannon (principal fonte do jornalista Michael Wolff, autor de Fire and Fury) revelam a arte de Trump de colecionar inimigos. Bannon era o todo-poderoso estrategista-chefe da campanha vitoriosa de 2016. Comey é o segundo diretor da história do FBI exonerado por um presidente. Ele abriu as investigações sobre o uso de servidor privado de e-mail por Hillary Clinton em seu período como secretária de Estado e a suposta interferência russa na eleição americana. Demitido, contou ao Senado o que sabia das ligações entre a equipe de Trump e o Kremlin e como teria sofrido pressão para jogar a sujeira para debaixo do tapete de sua sala no J. Edgar Hoover Building, o histórico prédio da Avenida Pensilvânia, número 935, em Washington.
Nas 304 páginas do livro, Comey lança mão de sua história como promotor anti-máfia nos anos 1980 para se elevar a um patamar moral que o colocaria muito acima do bem e do mal: compara o presidente a um chefe mafioso, o acusa de "falta de ética e egocentrismo" e o descreve como "mentiroso congênito, vazio de emoções e desligado da verdade". Um dos pontos mais escatológicos da obra é a suposta cena, em 2013, em que Trump teria pedido a um grupo de prostitutas que urinasse na cama da suíte presidencial do Hotel Ritz-Carlton, de Moscou, onde o casal Obama havia dormido.
O presidente negou a cena. E teria telefonado dezenas de vezes a Comey para garantir que os supostos rumores não vazassem, sob risco de chegarem à primeira-dama Melania.
- O senhor não está sob investigação - teria dito o então diretor ao chefe, para tranquilizá-lo.
No domingo, Comey concedeu a primeira entrevista desde a demissão. Ao programa 20/20, da rede americana ABC, deu seguimento a sua metralhadora giratória: afirmou que Trump é "moralmente incapaz" de ocupar o cargo e que trata mulheres como "pedaços de carne".
A entrevista ou o livro trazem poucas novidades sobre se o presidente obstruiu ou não a Justiça na trama russa. Nada diferente de seu depoimento ao Congresso. Pelas suspeitas de proximidade com os democratas e seu ódio à atual administração, é preciso ver a narrativa com cautela.
A despeito de aspectos curiosos, supostos fetiches trumpianos e fel destilado em papel, tudo indica que a obra de Comey é o melhor livro anti-Trump de todos os tempos da última semana. Aguardemos os próximos. "Quinze minutos de fama
Mais um pros comerciais,
Quinze minutos de fama
Depois descanse em paz.
O gênio da última hora,
É o idiota do ano seguinte
O último novo-rico,
É o mais novo pedinte (...)"
RODRIGO LOPES
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