quarta-feira, 11 de abril de 2018


11 DE ABRIL DE 2018
POLÍTICA


STF EVITOU RETROCESSO, DIZ MORO EM PORTO ALEGRE

FÓRUM DA LIBERDADE teve duas participações do juiz federal. Sem citar Lula, elogiou decisão que permitiu prisão do petista

O responsável pela análise da Lava-Jato na primeira instância em Curitiba (PR), o juiz federal Sergio Moro foi saudado sob aplausos com ares de popstar durante painel da 31ª edição do Fórum da Liberdade, na Capital. Eram 17h02min de ontem quando ele teve seu nome anunciado.

- Moro! Moro! Moro! - gritou o público presente no Centro de Eventos da PUCRS.

O juiz agradeceu pela oportunidade de integrar o fórum organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e, em sua segunda participação do dia no evento, declarou que faria uma síntese da operação. Em 22 minutos de explanação, evitou citar nominalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que teve a prisão decretada por ele na última quinta-feira. Ainda assim, o juiz elogiou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubou pedido de habeas corpus da defesa do petista na semana passada. A decisão manteve o entendimento atual da Corte, que permite a detenção de condenados após sentença em 2ª instância, tema que deve voltar à pauta do tribunal em breve (leia na página ao lado).

- Fiquei muito feliz com o julgamento no Supremo, não pelo caso especialmente, mas pela ideia de que o princípio de inocência não pode se refletir em impunidade de poderosos. É claro que todos têm direito de defesa. Ninguém quer que um inocente seja condenado. Mas não pode haver um sistema em que pessoas permaneçam impunes só por terem condições de manipular o sistema. O Supremo evitou um grande retrocesso - declarou Moro, que pela manhã já havia participado de outro debate no fórum e elogiado a decisão contrária a Lula, sem citá-lo.

Se dentro do auditório o clima era de apoio ao juiz, no lado de fora sobraram críticas. Durante o painel, grupo ligado ao movimento estudantil protestou perto da entrada do Centro de Eventos.

- Fora, Moro! Fora, Moro! Fora, Moro! - gritavam os manifestantes com cartazes nas mãos.

Mais cedo, outro protesto em frente à universidade pediu a libertação do ex-presidente, preso desde o último sábado em Curitiba (leia ao lado). Mas nenhuma das duas manifestações chegou a interromper o debate com o magistrado. O juiz federal também classificou como ponto "mais assustador" a revelação pela Lava- Jato da existência de casos de "corrupção sistêmica".

- Isso afeta a nossa economia. Mina a confiança dos cidadãos em seus governantes e no regime democrático - frisou.

O juiz ponderou ainda que avanços no sistema político e nas instituições do país não passam por ações autoritárias:

-Estamos em uma democracia e temos nossos problemas. Mas temos de resolvê-los aumentando a qualidade da nossa democracia.

Ao final de sua participação no segundo debate do dia, Moro respondeu a perguntas e brincou sobre os aplausos recebidos:

- Nunca vou concorrer a cargo público. Mas posso concorrer ao cargo de presidente do IEE.

PROMOTOR DA MÃOS LIMPAS ELOGIA APURAÇÕES NO BRASIL

Além de Moro, Antonio Di Pietro, vice-procurador no Tribunal de Milão, na Itália, e promotor da Operação Mãos Limpas, que serviu de inspiração à Lava-Jato, participou do debate. O italiano aproveitou para fazer reconhecimento às investigações anticorrupção no Brasil.

- Espero que as coisas melhorem. Hoje, os jovens têm de se perguntar se podem vencer seus concorrentes enganando-os. Se fizerem isso, sempre haverá alguém enganando eles também. Sempre haverá alguém impedindo-os de ir adiante dessa forma. É preciso respeito à lei - afirmou Di Pietro.

Professor de Ciência Política e PhD em Teoria Política e Econômica pela Universidade de Gênova, Adriano Gianturco completou o painel. O palestrante declarou que o Brasil tem leis em excesso, que carecem, em muitos casos, de funcionalidade. Ao final, avaliou o cenário eleitoral do país:

- Não haverá um salvador da pátria. É o carro que tem de ser trocado, e não só o motorista. Temos de reverter o Estado e limitar sua dinâmica.

LEONARDO VIECELI

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