24 DE ABRIL DE 2018
CLÁUDIA LAITANO
Os novos Robinson
Passei mais tempo em companhia de membros e agregados da família Robinson do que com meus primos e tios de verdade. Foram apenas três temporadas, entre 1965 e 1968, mas para quem foi criança no Brasil dos anos 1970, com uma Telefunken 20 polegadas como única área de lazer da casa, a sensação é de que a saga dos Robinson arrastou-se por toda a nossa infância e além.
Com tantos fãs espalhados pelo planeta, é quase um milagre que Perdidos no Espaço tenha demorado 30 anos até chegar aos cinemas. Mesmo com um elenco estrelado, que incluía Gary Oldman (vencedor do Oscar deste ano), William Hurt e Matt LeBlanc (o Joey, de Friends), o diretor Stephen Hopkins não conseguiu decolar com o filme de 1998. Perdeu-se no espaço entre intenções, grandiosas, e realização - que resultou fria e sem personalidade.
Duas décadas mais tarde, chegou a vez de a Netflix dar uma nova roupagem aos personagens, agora em um formato mais parecido com o original. A nova versão da série, que estreou no dia 13 de abril, vem colhendo elogios: conquistou novos fãs, agradou à crítica e honrou a nostalgia da geração Telefunken com sutis piscadelas cúmplices - ganha um Nescau na cama o cinquentão que ainda hoje sente ímpetos de desbravar o espaço sideral quando ouve a trilha sonora de John Williams.
Nos últimos 50 anos, todas as famílias mudaram - as nossas e a dos Robinson. Um dos grandes acertos da nova versão é assimilar algumas dessas mudanças, destacando o contraste entre as duas épocas exatamente naquilo que é, em essência, o diferencial da série: a aventura de lutar pela sobrevivência em um ambiente inóspito na companhia, nem sempre muito harmoniosa, da própria família.
Os Robinson originais, mesmo vivendo no longínquo futuro de 1997, eram uma típica família dos anos 1950, com hierarquias e funções bem definidas (homens agem, mulheres sofrem, jovens obedecem), alinhadas a um mundo que nunca mais seria o mesmo depois dos acontecimentos de 1968 - ano em que a série terminou.
A ação agora se passa em 2048, e eu adoraria estar por aqui para ver o que o público do futuro vai pensar das típicas famílias de 2018.
CLÁUDIA LAITANO
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