07 DE ABRIL DE 2018
ARTIGO
E AGORA?
Num país em que a ditadura de 21 anos nos desabituou a pensar, o audaz Lula da Silva surgiu na redemocratização como diferente e confiável.
Mas Lula foi a estrela fugaz que, no brilho, mostrou ser um enfeite como os dos pinheirinhos de Natal, que se rompem ao tilintar do vento. Condenado duas vezes num penduricalho do maior escândalo da nossa história, em vez de se defender, responsabilizou a esposa já falecida. Foi sentenciado pela terceira vez, agora pelo Supremo Tribunal, em que sete dos 11 ministros foram indicados por ele ou pelo PT, na gestão de Dilma.
Independentemente do que foi, será preso pelo que passou a ser.
A esquerda perde um mito? Ou se livra de uma fantasia, de uma mentira em si? O mito é perene, nem na morte desaparece. A fantasia é embuste ou ilusão, que só nosso olhar não vê.
Mas é difícil raciocinar com isenção quando a corrupção desnuda a pobreza da política. Hoje, qualquer aventureiro usa palavrões e (no estilo de Bolsonaro) se crê um Hitler tropical, num perigoso incêndio prévio de direita. Depois que Lula (com pose de esquerda) governou para os bancos e deu esmolas aos pobres, tudo se mistura.
Agora, Lula está nu por inteiro. Já nem averiguamos se, no início da vida sindical, foi informante da polícia política paulista, na ditadura, como contou Romeu Tuma Jr, ex-secretário nacional de Justiça do próprio Lula.
Dou a palavra a Tarso Genro, que em entrevista em Lisboa, antes da condenação, explicou textualmente: "Lula nunca foi de esquerda no sentido histórico de romper estruturas e levar outro grupo social ao poder. Isto estava apenas nos manifestos formais do PT".
Pobres inconfiáveis manifestos?
Lula não é o único nu. Também o Supremo desnudou-se. Gilmar Mendes (primeiro a votar a favor de Lula) culpou jornais, rádios e TVs, como se crime fosse informar dos criminosos. Inventou que vivemos "num brutal Estado punitivo", ele que, antes, mandou soltar grandes ladrões. Logo, voou a Lisboa, para "atender compromissos".
Antes, o relator Edson Fachin, em isento exame das condenações, negou o habeas corpus. Luís Roberto Barroso, brilhante e ponderado, esmiuçou a realidade "do país de ricos delinquentes", em linguajar profundo e simples, sem tolices requentadas para soarem como requintadas.
A prisão é o exemplo dolorido de como a ilusão pelo Paraíso se transformou na enganosa maçã que a astuta serpente deu a Eva e Adão comeu. Mas, aí, apesar dos corruptos e medíocres, pode começar outro país.
Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES
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