O setor de transporte está falido?
Prefeito de Porto Alegre
Apresentada como forma de conter o aumento da passagem de ônibus, uma série de cortes em isenções proposta pelo Executivo inflamou discussões sobre o sistema de transporte. Caso sejam aprovadas na Câmara de Vereadores, as medidas podem reduzir em R$ 0,20 os custos para a tarifa de 2018. Mesmo assim, a passagem deve aumentar para, no mínimo, R$ 4,40, segundo o governo.
Em entrevista na noite de segunda-feira, o prefeito Nelson Marchezan prometeu anunciar melhorias no sistema de ônibus e disse que os cortes nas isenções são urgentes para manter o sistema.
Mas o transporte está longe de ser a única preocupação de Marchezan. Ontem, servidores protestaram contra as propostas do prefeito de tornar legal o parcelamento de salários e de extinguir a licença-prêmio (leia na página ao lado).
No fim de semana, o líder do governo, Clàudio Janta (SD), mostrou- se surpreso com o envio durante o recesso e criticou o pacote de medidas. O que aconteceu?
Quem tem de explicar isso é o próprio líder Janta, já que, na semana que antecedeu o recesso, ele orientou o secretário de Relações Institucionais a apresentar os projetos no recesso, pois boa parte dos vereadores tinha compromissos, e só poderia fazer reunião em agosto. Nessa reunião, estavam presentes o Gustavo Paim, secretário de Relações Institucionais, o vereador, até então líder do governo, Clàudio Janta, e o vice-líder, Moisés Barbosa (PSDB).
Quem foi ouvido na definição dos projetos enviados ao Legislativo?
Todos: a comunidade, reuniões de empresários com técnicos da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), com técnicos de fora, conversamos com Trensurb, com os 40 maiores pontos de táxi, com as empresas de lotação, de ônibus. Pelo site, a gente ouviu as pessoas. Deixamos público, como nunca, o problema que temos: o setor de transporte está falido. Os taxistas, as lotações e as empresas de ônibus estão falidos. Há de se ter uma grande mudança, e a gente acredita que esses projetos são os necessários para fazer essa transição, de uma prestação de serviços que não é feita, que é um engodo.
Como assim?
Mais de 5 mil multas foram aplicadas nas empresas de ônibus só neste ano, por não prestação do serviço, pelo ônibus que deveria estar lá e não está. É três vezes mais do que no mesmo período do ano passado. Ou seja, a gente acha que tem a gratuidade de um serviço, mas o serviço não existe, entende? É um engodo. Refinamos os projetos para que representem o melhor que se pode fazer agora para, em médio prazo, ter um transporte público melhor.
Quando se candidataram a prestar o serviço, as empresas ?hoje falidas? não conheciam as regras?
O sistema está falido, não as empresas. O sistema como um todo está falido, e temos de reorganizá-lo. Não assumi o papel de resolver problemas financeiros das empresas e, sim, o problema do sistema de transporte de Porto Alegre. Que, sabemos, não é bom: é caro, não é confiável, não é confortável. A gente pretende entregar um serviço mais barato, mais seguro, mais confortável e mais confiável.
Segundo a EPTC, mesmo se aprovado o pacote, a tarifa subirá R$ 0,35 (vai a R$ 4,40).
Quem fez esse cálculo de R$ 4,40?
O Marcio Saueressig (responsável na EPTC pelo cálculo da tarifa).
O diretor-presidente da EPTC, Marcelo Soletti, intervém: na verdade, o cálculo do Marcio foi R$ 4,61, e, se tudo fosse aprovado, daria R$ 0,20 de desconto. São projeções de setembro em diante.
Marchezan retoma a resposta:
Não entendi, o Marcio fez um cálculo projetando o valor da tarifa? Acho que o Marcio se precipitou, porque, como ele pode avaliar a questão do reconhecimento facial e do combate a fraudes? Como pode antecipar se vai aumentar ou diminuir o número de passageiros? Não vi esse cálculo. Então, não tenho como explicar. A não ser que tu tenhas uma pergunta conceitual. Sobre o valor, não tenho como me manifestar.
O valor foi informado pela EPTC. O que a prefeitura prevê para melhorar o transporte se, em 2018, ele vai ficar mais caro e com a possibilidade de uma frota mais antiga?
Os decretos e projetos são para que a passagem não evolua nos valores que têm evoluído nos últimos anos. Isso é inegável, é matemática, né? Nesta semana, vamos publicar decretos que dão prazo para obrigações (das empresas) que já estavam na licitação: a implantação do reconhecimento facial na bilhetagem, a instalação de GPS e de equipamentos de filmagem. A gente acredita que, com isso, consiga avançar. De qualquer sorte, as mudanças estruturais não geram resultado imediato.
Inicia-se uma mudança de médio e longo prazo. A questão do GPS é diretamente relacionada ao controle efetivo dos serviços contratados. Eu consigo monitorar quantos ônibus estão operando, se tem atraso, qual a velocidade média. E oferecer conforto e segurança: o cidadão saber que horas o ônibus vai passar mais próximo da casa dele. Fora o monitoramento do trânsito para que o transporte público coletivo tenha mais agilidade do que o individual.
Se as empresas estão quebradas, como vão fazer as melhorias?
A gente convenceu as empresas de coisas que, nas últimas décadas, ninguém convenceu e que parecia que não iam acontecer nunca, que é o (caso do) acesso online aos dados da bilhetagem eletrônica. Nosso cálculo, no ano que vem, vai ser mais transparente. A gente tem acesso à conta bancária das receitas da bilhetagem eletrônica, o que também parecia uma coisa que não ia acontecer.
Convencemos as empresas de que o reconhecimento facial é positivo no combate a fraudes, e combater isso também melhora o faturamento. Que, (com) câmeras funcionando online, a gente consiga diminuir os assaltos e aumentar a utilização dos ônibus.
As mudanças vão exigir dinheiro. Como as empresas vão bancar isso?
O reconhecimento facial, ele se paga. É isso que estamos dizendo às empresas. A dificuldade é que algumas talvez não tenham crédito, né? Vão ter de buscar de outra forma, como em troca de recebíveis. A gente está conversando com as empresas para que façam um esforço. Embora a gente saiba que muitas têm dificuldade de pagar a folha. Essa é uma parte, né?
Em fevereiro a tarifa vai aumentar. Como a prefeitura vai barrar a queda de passageiros?
A gente está tomando medidas para que, ou futuramente o preço diminua, ou não aumente tanto. É matemática, é racional, isso não dá para alterar, entende? Quanto mais gratuidade, mais caro fica. Então, essas medidas são para evitar o superencarecimento ou o encarecimento da passagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário