quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017



15 de fevereiro de 2017 | N° 18769 
DAVID COIMBRA

Tom Brady em Porto Alegre

A curta caminhada da casa da Gisele Bündchen, fica um cinema que, suponho, deva ser frequentado por ela e pelo campeão Tom Brady. Chama-se Superlux. São poucas poltronas por sala e, no caso, trata-se de poltronas mesmo, não cadeiras. Você preme um botão e o encosto reclina-se docemente, ao mesmo tempo em que se eleva um descanso para os pés. Você assiste ao filme deitado, como se estivesse estirado no sofá da sua sala.

Ainda compro uma dessas poltronas para ter em casa, sim, senhor.

Quando você chega ao auditório, um gentil funcionário de paletó e gravata o conduz até o seu assento, oferece-lhe um cobertor macio e lhe põe entre as mãos um iPad onde você encontra o menu do bom restaurante localizado na entrada. Você pode jantar ou apenas tomar um drinque durante a sessão.

No domingo passado, nevou o dia inteiro, então, não estava com espírito para a minha bebida preferida, o chope gelado, dourado e cremoso do Brasil. Pensei que, se Gisele estivesse por ali, aprovaria se pedisse alguma coisa sofisticada, algo que, talvez, Philip Marlowe quisesse beber. Então, levantei uma sobrancelha e... pedi um Manhattan.

Ah, lá estava eu. A neve se avolumava do lado de fora e eu bebericava um Manhattan numa taça de cristal em forma de cone, com o dedo minguinho levantado, reclinado em minha poltrona especial, sentindo-me um lorde. Vejam-me agora, bagaceiras do IAPI.

Então, começou o filme.

Ainda não foi lançado no Brasil. O título americano é Patriots Day. Em português será O Dia do Atentado. O atentado, no caso, é o que foi cometido na Maratona de Boston, quatro anos atrás.

O filme me tocou, porque a cidade surge como personagem, e conheço muitas das pessoas envolvidas e muitos dos lugares em que se passa a ação.

O protagonista, Mark Wahlberg, é de Boston. Nasceu e se criou num bairro operário da cidade e, antes de ser ator, fez sucesso como cantor de rap. Era chamado de Marky Mark.

Wahlberg tem oito irmãos. Com eles, montou uma rede de hamburguerias, a Wahlburgers. O hambúrguer de lá é bem bom. Dos meus preferidos, rivalizando, talvez, com o da Shake Shack.

Já contei da vez em que o Neymar foi à Shake Shack do centro de Boston? Foi dois dias antes do jogo da Seleção contra os Estados Unidos, no estádio do Patriots.

Eu caminhava pela Newbury Street, que é a Padre Chagas de Boston, na companhia de alguns amigos jornalistas. Ia levá-los, exatamente, à Shake Shack, para que fizessem um lanche. A meia quadra de distância, vimos o Neymar encostado distraidamente em um poste. Com ele estavam outros jogadores, dos quais não lembro agora, e duas ou três garotas brasileiras. Passamos pelo grupo, acenamos e fomos em frente. 

Cinco minutos depois, enquanto meus colegas faziam seus pedidos, os jogadores entraram na Shake Shack. Era uma turma que chamava atenção, mas... ninguém olhou para eles. O lugar estava lotado, e nem um só frequentador reconheceu Neymar ou outro jogador. Eles entraram na fila, fizeram seus pedidos e se espalharam por três mesas sem despertar um único olhar de curiosidade. Bem depois é que um menino brasileiro se aproximou e pediu para tirar uma foto com Neymar.

Imagino que, em Porto alegre, Tom Brady também experimentaria o sabor insosso do anonimato. Ou será que não? De qualquer maneira, o que quero abordar, de fato, é o assunto do filme do qual a cidade foi personagem: o Terror.

O que quero dizer é que... espere. Direi amanhã.

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