sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017


Jaime Cimenti

Obra essencial da literatura brasileira

Lendo, relendo e treslendo o poema Cobra Norato (José Olympio, 94 páginas, 30ª edição), do rio-grandense Raul Bopp, nascido em Pinhal - município de Santa Maria em 1898 - e falecido no Rio de Janeiro em 1984, não há como deixar de constatar que se trata de uma das obras mais marcantes e influentes da literatura brasileira.

O grande e genial poema situa o escritor como um de nossos maiores autores, especialmente no âmbito do Modernismo de 1922, que até hoje influencia os caminhos da cultura brasileira. Raul Bopp viajou muito pelo Brasil e pelo mundo, tendo sido diplomata em vários países. Os estudos sobre folclore, as pesquisas de campo e conversas com pessoas e as viagens serviram de base para a lenta e cuidadosa elaboração de Cobra Norato, que, inicialmente, seria um poema para crianças. Cobra Norato é texto emblemático do modernismo e utiliza o mito amazônico da Cobra Grande, lenda que tem algumas variantes.

Uma delas é justamente a do Cobra Norato. Câmara Cascudo, em seu famoso Dicionário de Folclore, escreveu que uma índia se banhava entre o rio Amazonas e o Trombetas quando foi engravidada pela Cobra Grande. Nasceram-lhe um menino, Norato, e a menina Maria Caninana. Maria era uma peste, provocava naufrágios. Norato, que era bom, foi obrigado a matá-la. Como penitência, Norato, à noite, passou a transformar-se em sedutor, deixando na beira do rio sua longa pele. Segundo a lenda, se alguém conseguisse pingar leite na boca da cobra e ferir sua cabeça, ela se desencantaria e se tornaria um rapaz. Tal façanha foi conseguida por um soldado do rio Tocantins.

Na introdução, estão as seguintes palavras da professora Lígia Morrone Averbuck: "Pode-se verificar que, hoje, quando há um renovado interesse pelo exame da significação do movimento modernista, com vistas à interpretação global da cultura brasileira, a obra de Raul Bopp aparece realçada por um significado fundamental no conjunto do período, como expressão de uma poética linguística e estilisticamente revolucionária, pela margem conotativa revelada nas entrelinhas do seu texto e sua aproximação com uma das mais ricas formulações da temática modernista, a do movimento antropofágico, aspectos todos eles abertos ainda à discussão e à análise".

Na orelha, o escritor Affonso Romano de Sant'Anna escreveu: "o poético do texto vem menos do tratamento do verso do que da utilização do mito dentro da estética modernista. O autor passou a vida inteira fazendo pequenas correções nas muitas reedições de Cobra Norato. Esteticamente pertence ao primitivismo poético, um esforço intelectual para incorporar a ingenuidade narrativa das lendas indígenas brasileiras". lançamentos

A onda corporativa - Corporativismo e ditaduras na Europa e na América Latina (FGV, 344 páginas), organizado por Antônio Costa Pinto, da Universidade de Lisboa, e Francisco Martinho, da USP, tem textos deles e de especialistas sobre adoção de corporações sociais e políticas na primeira metade do século XX. Memória das árvores - Poemas escolhidos, do poeta, jornalista e filólogo da Moldávia Nicolae Dabija (Bestiário, 48 páginas), com tradução de José Eduardo Degrazia, apresenta densos e sensíveis poemas que trazem lendas, tradições religiosas e a natureza do País do autor.

Sucessão - O processo sucessório nos negócios, na empresa e no patrimônio (Imersões, 216 páginas), de Werner Bornholdt, doutor em psicologia das organizações e recursos humanos, economista e consultor trata com profundidade sobre sucessão, governança, mitos, coaching e outros tópicos relevantes. - Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/02/colunas/livros/545003-obra-essencial-da-literatura-brasileira.html)

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