quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017


02 de fevereiro de 2017 | N° 18758 
CARLOS GERBASE

DESAFINANDO EM "LA LA LAND"

Gosto de filmes musicais, antigos e contemporâneos. Adoro Cantando na Chuva (de Gene Kelly e Stanley Donen, 1952), sempre é bom rever Cabaret (Bob Fosse, 1972), acho que Lars von Trier foi genial em Dançando no Escuro (2000) e curto muito o romantismo exagerado de Moulin Rouge: Amor em Vermelho (Baz Luhrman, 2001). Para citar um filme mais recente, vi duas vezes seguidas Bem Amadas (Christophe Honoré, 2011) e fiquei alguns meses ouvindo a trilha no carro. 

Que belas canções, que letras inspiradas, que elenco afinado, que história bacana, cheia de amores e tragédias! Portanto, antes de ver La La Land (Damien Chazelle, 2016), um musical aclamado pela crítica e multi-indicado para o Oscar, eu tinha certeza que iria me divertir. Pois não me diverti. Pelo contrário: fui me irritando aos poucos e, no final, estava decididamente aborrecido. É um filme chato, banal e irrelevante.

Sei o que faz de La La Land uma obra bem sucedida. É um filme “espetacular”, no mesmo sentido em que são “espetaculares” os filmes de super-heróis da Marvel e da DC Comics. A câmera faz movimentos espetaculares, os números de dança têm momentos espetaculares (especialmente pelo número espetacular de bailarinos) e os cenários de Los Angeles são espetacularmente bonitos, enquanto Ryan Gosling e Emma Stone fazem o possível para ser espetacularmente charmosos. 

Nunca vi dois personagens mal de grana tão bem vestidos, penteados e maquiados. Tudo está “certo” em La La Land para fazer o espectador ficar espetacularmente satisfeito. As canções são, musicalmente falando, bem fraquinhas, mas a Academia não concorda comigo e indicou duas delas para o Oscar. Enfim, o espetáculo não somente não pode parar, como tem que ser mais e mais espetacular.

Então por que eu não curti La La Land nem um pouquinho? Porque, perto de todos os musicais que citei, a narrativa é muito mal desenvolvida. Nada a criticar quanto ao tema. “O artista lutando para ter uma chance” é um argumento clássico e poderia funcionar muito bem. Mas, como ensina Umberto Eco, não há nada errado em começar com um clichê. O problema é terminar com ele. La La Land é a mais espetacular sucessão de clichês de todos os tempos. E pode ganhar 39 Oscar que minha opinião não mudará.

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