quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017


02 de fevereiro de 2017 | N° 18758 
L.F. VERISSIMO

Diálogo Norte-Sul

Com Trump, como será a política americana com relação à América Latina? O diálogo Norte-Sul pode ficar assim:

– Ola, guapo.– Rai.

– Tienes um cigarrito?

– Aqui está.

– Mmmm. Tanks, rubio. (Cantarola, com a melodia de Guantanamera) “Quanto le devo, o, o, quanto le devo...”

– Eu boto na conta.

– Cierto. Bien que podias me dar una cojer de tcha, hein, gringo? Tenho 17 filhos.

– Mas não tens marido.

– E com 17 filhos, quem pode sustentar um marido? Dançamos?

– Devagar, que eu não sou bom nisso. Vocês do Sul é que têm ritmo. Vocês são autênticos. Fazem artesanato. Passam fome. Têm muitos filhos. Nós, do Norte, perdemos contato com o barro da vida, entiendes? Eu, por exemplo, tenho uma mulher e 1,3 filho. Vien a mi suíte, corazón.

– Da última vez, usted disse que íamos nos casar e ser igual em tudo. Até me ofereceste uma aliança, para el progresso.

– Como sos caliente, chiuaua.

– Aiuto! Socuerro!

– Ninguém pode ajudá-la, mi periquito. Tens que fazer o que eu mando. Como vocês, pobres, são sensuais. Não resista, entre.

– Bonita a sua suíte. Olha essa mão, guapo.

– Oh yes, yes. Solamente una vez.

– Calma, deixa eu tirar a...

– Mmm. Este cheiro de frijoles. Dá-me tus maracas. Dá-me tu Petrobras. Oh, yes...

– Ai! Ui!

– Was it good?

– Disparas rápido, cabron. Não pude nem dizer minhas preces.

– (Bocejo)

– O que quieres dizer com (bocejo)?

– Depois que tudo que te dei, não me dás nada em troca?

– Como no? E mi matéria hermana?

– Você quer dizer matéria-prima.

– Era uma irmã para mim! Levaste-a por nada e me devolveste transformada, manufaturada, irreconhecível! – por uma fortuna. Maldición!

– Calma, calma.

– Só quero ser tratada como uma igual.

– Ora, uma igual. Eres fecunda, maltrapilha e escancajada. Falas o inglês com sotaque e vês telenovelas chupando o dente.

– Sou assim porque, todos estes anos, fui na sua conversa. Sugaste meus sonhos e a minha juventude e me deixaste, sola y inadimplente, como um bagaço.

– (Cantando ironicamente) “Tangerine”...

– Sabe de uma coisa, rubio? Vaya com Dios.

– “Vaya com Dios”? Já não estás mais a mi lado, corazón?

– Quer me largar?

– O que é isso, rã? Vamos conversar.

– Não me chamou de piolhenta? No quierem hacer um muro para que não entre más piolhentos? Pois então me larga.

– “Piolhenta” no bom sentido. Perdeu um pouco na tradução.

– Jô, hein?

– (Sedutor) Camone. – Na-o.

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