Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
02 de fevereiro de 2017 | N° 18758
L.F. VERISSIMO
Diálogo Norte-Sul
Com Trump, como será a política americana com relação à América Latina? O diálogo Norte-Sul pode ficar assim:
– Ola, guapo.– Rai.
– Tienes um cigarrito?
– Aqui está.
– Mmmm. Tanks, rubio. (Cantarola, com a melodia de Guantanamera) “Quanto le devo, o, o, quanto le devo...”
– Eu boto na conta.
– Cierto. Bien que podias me dar una cojer de tcha, hein, gringo? Tenho 17 filhos.
– Mas não tens marido.
– E com 17 filhos, quem pode sustentar um marido? Dançamos?
– Devagar, que eu não sou bom nisso. Vocês do Sul é que têm ritmo. Vocês são autênticos. Fazem artesanato. Passam fome. Têm muitos filhos. Nós, do Norte, perdemos contato com o barro da vida, entiendes? Eu, por exemplo, tenho uma mulher e 1,3 filho. Vien a mi suíte, corazón.
– Da última vez, usted disse que íamos nos casar e ser igual em tudo. Até me ofereceste uma aliança, para el progresso.
– Como sos caliente, chiuaua.
– Aiuto! Socuerro!
– Ninguém pode ajudá-la, mi periquito. Tens que fazer o que eu mando. Como vocês, pobres, são sensuais. Não resista, entre.
– Bonita a sua suíte. Olha essa mão, guapo.
– Oh yes, yes. Solamente una vez.
– Calma, deixa eu tirar a...
– Mmm. Este cheiro de frijoles. Dá-me tus maracas. Dá-me tu Petrobras. Oh, yes...
– Ai! Ui!
– Was it good?
– Disparas rápido, cabron. Não pude nem dizer minhas preces.
– (Bocejo)
– O que quieres dizer com (bocejo)?
– Depois que tudo que te dei, não me dás nada em troca?
– Como no? E mi matéria hermana?
– Você quer dizer matéria-prima.
– Era uma irmã para mim! Levaste-a por nada e me devolveste transformada, manufaturada, irreconhecível! – por uma fortuna. Maldición!
– Calma, calma.
– Só quero ser tratada como uma igual.
– Ora, uma igual. Eres fecunda, maltrapilha e escancajada. Falas o inglês com sotaque e vês telenovelas chupando o dente.
– Sou assim porque, todos estes anos, fui na sua conversa. Sugaste meus sonhos e a minha juventude e me deixaste, sola y inadimplente, como um bagaço.
– (Cantando ironicamente) “Tangerine”...
– Sabe de uma coisa, rubio? Vaya com Dios.
– “Vaya com Dios”? Já não estás mais a mi lado, corazón?
– Quer me largar?
– O que é isso, rã? Vamos conversar.
– Não me chamou de piolhenta? No quierem hacer um muro para que não entre más piolhentos? Pois então me larga.
– “Piolhenta” no bom sentido. Perdeu um pouco na tradução.
– Jô, hein?
– (Sedutor) Camone. – Na-o.
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