08 de fevereiro de 2017 | N° 18763
FÁBIO PRIKLADNICKI
VIVER DE CULTURA
Há uma ideia difundida no meio cultural de que a arte vive em uma espécie de ambiente isolado do mundo econômico. É uma posição coerente com a crítica ao capitalismo e ao establishment presente no discurso de muitos. Ao mesmo tempo, os diferentes atores do setor (criadores, produtores, técnicos etc.) batalham para que nunca sejam solicitados a fazer de graça a única coisa que têm para vender: sua obra. De fato, não há nada mais aviltante para um artista do que trabalhar de graça.
Sendo eu um interessado tanto pelos movimentos da arte quanto pela história das ideias econômicas (embora não com o mesmo grau de conhecimento de uma e de outra), fico intrigado com o desprezo de figuras do meio cultural pela forma como funcionam as finanças. É preocupante para a sustentabilidade de qualquer projeto. Entendo que isso tem a ver com o ideal de integridade segundo o qual um artista de verdade jamais deveria pautar sua obra por interesses econômicos – daí a desconfiança dos mais críticos com relação a best-sellers, blockbusters do cinema e estrelas da música pop.
Não proponho que nenhum artista abandone seus princípios, pois são o que temos de mais precioso. O que quero dizer é o seguinte: reconhecer que a arte se dá em um ambiente de trocas, e não em um vácuo idealizado, é um ponto de partida para se pensar a economia da cultura. É bom para todos os envolvidos que a arte movimente dinheiro, o que não quer dizer, de forma alguma, que se deva fazer qualquer coisa por dinheiro. Afinal de contas, os criadores – assim como nós, mortais – também precisam almoçar.
É necessário pensar nas cifras desde o primeiro dia de envolvimento com um projeto. O artista precisa de tempo para criar, o que deve ser viabilizado de alguma forma: com um adiantamento ou patrocínio, um segundo trabalho, um edital público ou privado, uma bolsa, uma reserva financeira. Se o projeto exigir financiamento mais polpudo (no caso de um filme, uma peça de teatro, uma exposição), será preciso captar recursos. Tudo isso requer conhecimento especializado. Se o artista não tiver isso, precisará contratar alguém que o tenha.
São ótimas as histórias sobre gênios incompreendidos que morreram na miséria e depois tiveram sua obra mundialmente reconhecida. Não acredito que alguém hoje almeje desfecho similar. O que querem os profissionais do setor é viver – e não apenas sobreviver – honestamente com seu trabalho, fazendo aquilo em que mais acreditam. Para isso, é preciso valorizar e entender a economia da cultura.
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