sábado, 4 de fevereiro de 2017


04 de fevereiro de 2017 | N° 18760 
PIANGERS

Dedo podre

Ela disse que esse era o terceiro namorado que não dava certo e que estava quase desistindo da matéria já que, pela experiência, não sabia escolher homens. Sabe como é, né? Dedo podre. Outra foi casada uma vez, o marido a abandonou grávida, casou de novo, nova separação. Acho que meu dedo é meio podre, Piangers. Uma largou um relacionamento abusivo pra entrar em outro. Sabe o que eu acho que eu tenho?, perguntou. Dedo podre.

Odeio estragar assim a sua fantasia de que o motivo de todos os problemas da sua vida é você mesma, mas acho que talvez seria uma boa levar em conta que pode ser que o problema esteja, não no seu indicador, mas pro que ele aponta. Desculpem detentoras de dedo podre, mas não é o seu dedo que tem problema, são as frutas desta feira. Quando todas as frutas da quitanda estão podres, não é você que não sabe escolher.

Posso imaginar algum homem indignado com essa premissa, mas acho que a reflexão é válida: será que não somos mesmo péssimos? Será que não temos comportamentos vergonhosos com as mulheres? Será que não poderíamos ser melhores? Será que nossas mulheres não estão conosco por simples conformismo? Será que não merecem algo melhor? O homem que simplesmente não se permite essa reflexão mostra que já está errado.

O dedo podre não existe. Para a mulher, é como um amuleto do Dumbo ao contrário: ao invés de te dar confiança pra voar, vai te deixando cada vez mais insegura e desanimada na escolha de caras. Com o passar do tempo, a menina se acostuma com o talismã imaginário e se conforma com suas escolhas erradas, aceitando ficar com um cara porque “é o que tem”. Algumas decidem ficar sozinhas. Algumas decidem ficar com outras mulheres. Algumas se esforçam pra transformar seu companheiro. Dizem que algumas conseguem. Esse é mais um mito que teremos que investigar.

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