sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017


03 de fevereiro de 2017 | N° 18759
CLÁUDIA LAITANO


Os outros eus

É possível estudar História olhando apenas para aquilo que não aconteceu. A chamada “história contrafactual” projeta cursos alternativos que a História poderia ter tomado se este ou aquele evento tivesse se encaminhado para um desfecho diferente – Hitler vencendo a II Guerra, Getúlio Vargas morrendo de velho em São Borja.

Esse tipo de fabulação tem sido explorado com frequência também pela ficção. No romance Complô Contra a América (2004), por exemplo, o escritor americano Philip Roth imagina o que teria acontecido com os Estados Unidos se Charles Lindbergh, pioneiro da aviação e suposto simpatizante do nazismo, tivesse sido eleito presidente em 1940, dando início a uma versão local da perseguição aos judeus na Europa.

(Não foram poucos os leitores de Roth, aliás, que nos último dias tiveram a sensação de que o livro, inventando um passado distópico sob um governo Lindbergh, acabou prevendo o futuro sob o governo Trump.) No Brasil, o escritor paranaense Miguel Sanches Neto fez algo parecido no romance A Segunda Pátria (2015), que mostra o que poderia ter acontecido por aqui se Getúlio tivesse abraçado oficialmente os ideais da Alemanha nazista.

Lançado nos Estados Unidos nesta semana, o romance 4321, do escritor americano Paul Auster, faz um curioso e intrincado exercício múltiplo de “história contrafactual”. Com muitos traços autobiográficos, o romance, de mais de 800 páginas, propõe quatro trajetórias diferentes para um mesmo personagem, Archie Ferguson.

Do nascimento, em 1947, em uma família americana de origem judaica, ao início da vida adulta, cada uma das suas versões registra experiências diversas na infância, na adolescência, no amor, nos esportes. Seus pais também se desdobram em quatro versões. Em uma delas, o pai de Archie morre cedo, na outra torna-se uma figura distante. Em uma das versões, o personagem é gay, nas outras três, não. Em todas as encarnações, porém, o personagem mantém um eixo comum: o sonho de tornar-se escritor.

Confrontada com diferentes escolhas feitas ao longo de uma vida, a maioria das pessoas talvez considere mais fácil imaginar versões contrafactuais daquilo que poderiam ter sido (e não foram) do que encontrar aquilo que, consideradas todas as variáveis externas possíveis, permaneceria exatamente igual – e essencial.

BINGO
Nosso país não é do Primeiro Mundo. Não validar oficialmente esse jogo que é considerado de azar, em detrimento da pura distração de muitos que esperam por sua legalização, principalmente idosos, mostra uma faca de dois gumes, já que contravenção mesmo é o jogo do bicho, que corre solto em qualquer lugar e hora. E os jogos da Caixa Federal, o que são? Distração? Dois pesos e duas medidas, infelizmente.

NORTON ALOISIO

Aposentado – Porto Alegre

Instituições e pessoas brasileiras vicejam em enorme clima de hipocrisia. O recente episódio do abre e fecha da casa de jogos de azar demonstra a plena falsidade que nos alimenta. Em um país destroçado pela corrupção e pelo desemprego, com a economia em frangalhos, a reabertura das casas de jogo, pagando impostos, legalizadas e criando empregos seria um pequeno oásis nessa miséria virulenta que estamos enfrentando. Uma oportunidade de ouro para amainar tanto desespero e desesperança.

PEDRO MONTEZUMA PACHECO PRATES

Advogado – Porto Alegre



SOBRE ZH

Criminosos do colarinho branco, segundo David Coimbra, não são violentos (ZH, 31/1). Esquece ele que, ao roubarem dinheiro da sociedade, contribuem para a morte de pacientes nas filas do SUS, para o não recebimento de medicamentos, contribui também essa gente fina do colarinho branco de que ele tem pena para que o aluno não tenha merenda na escola, não tenha livros, computadores e professores recebendo dignamente. Os criminosos do colarinho branco não matam violentamente uma pessoa, eles matam centenas a conta- gotas, lentamente, e muitos não notam, como David Coimbra!

FRANCISCO OLIVEIRA DA SILVA

Economista – Palmeira das Missões

Rosane de Oliveira classifica de “violência” a raspagem de cabelo dos presos (ZH, 31/1). Violência é cobrar impostos extorsivos, não construir escolas, hospitais e presídios suficientes, corromper ou ser corrompido. Sem contar a obtenção de ganhos muito superiores ao teto salarial, por si só pornográfico num país de salário mínimo irrisório.

SÉRGIO BECKER - Jornalista – Porto Alegre

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