
WALCYR
CARRASCO
01/11/2013
20h34 - Atualizado em 01/11/2013 20h34
E a medicina
alternativa?
Por
que ela não merece pesquisas na mesma quantidade e qualidade das farmacêuticas?
O
executivo se levanta, aciona o Powerpoint e mostra uma curva de aumento de
casos de um tipo de câncer. A plateia aplaude. Em seguida vem outro. Expõe o
crescimento do número de infectados pelo vírus HIV em alguma região. Mais
aplausos entusiasmados.
Estou
imaginando a reunião de avaliação de desempenho anual de algum grande
laboratório farmacêutico, desses que vendem desde analgésicos até drogas novas
e poderosas contra o câncer. O maior número de pacientes equivale a lucros. Os
executivos comemoram os bônus pela performance da empresa. É a casa nova, a
viagem com a família. E, bem... sem doentes, como sobreviveriam?
Sem
os laboratórios, sem pesquisas farmacêuticas, como sobreviveríamos, sem nem
sequer um analgésico contra gripe? Os remédios são necessários. As cobaias
também. Por isso silenciei durante o escândalo em torno da libertação dos
cãezinhos num laboratório em São Roque, São Paulo.
Adoro
cães, fiquei com o coração mexido diante das imagens daqueles cachorrinhos tão
lindos, usados para experiências. Mas o estágio com animais é fundamental para
chegar a experiências com seres humanos. Hoje em dia, para um paciente com
câncer agressivo, muitas vezes a única esperança é tornar-se cobaia de um novo
medicamento. No início da década de 1990, um amigo soropositivo me comunicou,
emocionado:
–
Consegui entrar para uma pesquisa de um novo remédio contra aids.
Sua
esperança era ser cobaia.
Remédios
são importantes.
Mas
por que as medicinas alternativas não merecem pesquisas na mesma quantidade e
qualidade das farmacêuticas? Não falo de loucuras. Na década de 1960, a
macrobiótica tornou-se um fenômeno. Prometia a cura de qualquer doença para
quem seguisse uma dieta de arroz integral (e só ele) dez dias seguidos. Muita
gente foi parar no hospital. Fala-se muito em acupuntura.
Alguns
convênios até cobrem o tratamento. Já tive prova de que funciona. Há anos subi
uma escadaria com mais de 300 degraus em Barcelona. Coisas de meu ímpeto
turista. Arrebentei algo na perna esquerda. Andava mancando. Passei por vários
médicos, fiz ressonância magnética. Nada. O diagnóstico: uma lesão tão mínima
que não aparecia.
Sem
andar direito, acabei no doutor Lu, em São Paulo, com formação em acupuntura na
China. Em um mês de sessões seguidas, passei a caminhar normalmente.
Tenho
um lado xamã urbano. Ultimamente ando bem interessado no trabalho da doutora
Hulda Clark, morta em 2009. Ela acreditava na criação de uma medicina
eletromagnética. Meu interesse começou há muitos anos, instigado por um
massagista que tinha uma máquina de cura por eletricidade. Era uma pequena
plataforma, onde se colocavam os pés. Sentia pequenos choques. Uma coceirinha.
Levei-a emprestada.
Usei
15 dias seguidos. Uma micose de unha, no dedão, desapareceu. Nunca mais voltou.
Eu já tratara antes, com remédios agressivos para o fígado. Mas voltara. Os
choquinhos acabaram com ela, sou testemunha. A doutora Hulda foi fundo nessa
pesquisa. Escreveu alguns livros anunciando a cura para todo tipo de câncer,
que achei otimistas demais. Era contra o uso de metais na boca, por ser
cancerígenos. Apoiava os amálgamas.
Sua invenção
principal é o zapper. É um aparelhinho que funciona a pilha. A gente prende nos
pulsos e aperta um botão. Autoprogramado, o zapper nos envia mínimos impulsos
elétricos, para a manutenção da saúde cotidiana. Para casos graves, ela
propunha aparelhos mais sofisticados, com uma onda eletromagnética específica
para a doença.
Óbvio,
ela foi questionada pela Food and Drugs Administration (FDA), poderoso órgão
que cuida da saúde nos Estados Unidos. Em Tijuana, no México, montou um centro
de pesquisa e tratamento do câncer.
Do
ponto de vista do leigo, isso é medicina? Talvez não. Dos médicos tradicionais,
menos ainda. Mas vale a pena ter a mente aberta. Impulsos elétricos monitorados
não poderiam ser o ponto de partida de novos tratamentos? Assim como a acupuntura,
baseada nos fluxos energéticos do corpo?
É
excitante a possibilidade de uma nova medicina, com novos princípios, capaz até
de complementar a já existente. Mas não tenho conhecimento de grandes
investimentos aplicados em conhecimentos tradicionais ou de vanguarda.
Acupuntura ou correntes elétricas jamais darão o lucro que lançar um novo
medicamento proporciona. A grande questão continua sendo a grana.
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