quinta-feira, 7 de novembro de 2024


07 de Novembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Pacote impede alta no dólar por Trump

Com o dólar pressionado por desconfiança fiscal no Brasil, a vitória de Donald Trump na eleição para a presidência dos Estados Unidos chegou a fazer o mercado abrir em alta de 1,7%, para R$ 5,844, mas a moeda americana no Brasil fechou na contramão dos mercados globais, com baixa de 1,26%, para R$ 5,674.

O que fez a diferença? A expectativa de anúncio do pacote de corte de gastos. Apesar de um ensaio de parte da Esplanada dos Ministérios para adiar a apresentação das medidas, usando até a eleição americana como argumento, não há tempo a perder.

O economista André Perfeito define o brete para o governo Lula:

A vitória de Trump coloca muita pressão sobre o Palácio do Planalto para fazer cortes de gastos o mais rápido possível. A conta é simples: se Lula não estancar a piora da visão das contas públicas o dólar em alta irá destruir em 2024 as chances em 2026.

Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as medidas estão definidas, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer apresentar as propostas antes aos presidentes da Câmara e do Senado.

A expectativa segurou o dólar ontem. Hoje é outro dia. E a possibilidade de que a cotação no Brasil chegue a R$ 6 continua válida.

Por que a moeda norte-americana tende a subir

A leitura é de que a eleição de Trump, com pauta ainda mais protecionista do que a dos democratas, fortalecerá o dólar ante todas as demais moedas. O real será desvalorizado por efeito colateral. Com protecionismo exacerbado - ele "prometeu" alíquotas de 60% para produtos chineses -, o risco é realimentar a inflação. Barreiras a produtos estrangeiros devem levar a preços mais altos dentro do país.

Claro, ainda é preciso saber o que era bravata e quais serão as políticas efetivas. Como a vitória deve ser acompanhada de maioria nas duas casas legislativas - além de domínio na Suprema Corte -, se quiser Trump poderá ser... ainda mais Trump.

Caso a inflação de fato suba, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) terá de ser mais cauteloso na redução do juro. Outros países terão mais dificuldade de diminuir suas taxas, porque os títulos públicos dos EUA seguirão rendendo bem. _

moedas em queda

Se o real escapou da valorização do dólar, outras moedas sentiram o "efeito Trump". O euro e o iene japonês perderam 1,5% em relação à moeda americana. O franco suíço se desvalorizou 1,3%. O renminbi da China caiu 1%. O peso mexicano, que ao despencar na véspera sinalizou a vitória de Trump, conseguiu se apreciar 0,4%. Conforme o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a reação se deveu à forte queda no dia anterior e ao discurso de vitória mais moderado.

Já teve dólar a R$ 6 no Google, mas era erro. A ferramenta saiu do ar depois de cotar a moeda americana a R$ 6,19, em tese pelo câmbio comercial. O turismo, de verdade, foi a R$ 6, mas também se moderou e fechou em R$ 5,903.

Exportações com risco de maior impacto

Em seu discurso de vitória, Donald Trump repetiu duas vezes "America first" (EUA primeiro). Exportadores já fazem contas do impacto de mais barreiras ao comércio com os Estados Unidos. O petróleo foi o mais vendido de janeiro a junho. Dobrou valor e volume exportados ante igual período de 2023. Produtos semiacabados de ferro e aço, alvo do protecionismo de Trump em 2018, vêm em seguida. Clientes já vinham reduzindo as compras, ao redor de 30%, tanto em valor quanto em volume.

Aeronaves e suas partes estão em terceiro e subindo ao redor de 10% nas duas formas de medição. E o Brasil havia triplicado a venda de óleo combustível aos EUA. Não se trata de gasolina e diesel, os mais elaborados, mas envolvem refino. O quinto tem baixa elaboração - ferro-gusa - e pode até ser menos afetado, mas não há garantia. _

Gerdau produz nos EUA, mas teme excedentes

Maior produtora brasileira de aço, a Gerdau só exporta "de forma esporádica" para os EUA, por ter grande produção na América do Norte, conforme o diretor financeiro da empresa, Rafael Japur. A coluna quis saber se, com as prováveis barreiras americana, não haverá mais excedente de aço no mundo, e o CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, confirmou:

- Se fecha mais nos EUA, é muito provável que mais aço venha ao Brasil. É fundamental que o governo federal seja célere, porque o mecanismo de defesa comercial mista, por meio de cotas, não tem trazido os resultados esperados e precisa ser reformado.

Em abril, o governo Lula havia anunciado um mecanismo para evitar a "invasão do aço chinês". Werneck vê necessidade de elevar a sobretaxa de 25% para 35% sobre o que excede a cota estipulada. E observou que só 15 tipos de aço estão protegidos, seria preciso que outros fossem incluídos. Disse, ainda, que o setor tem "sido surpreendido" por forte ingresso de aço via Zona Franca de Manaus. _

Em comunicado duro, Copom também pede cortes para logo

A coluna tinha expectativa de que o pacote de corte de gastos pudesse vir antes da alta de juro, mas esse cenário não se confirmou. O Comitê de Política Monetária (Copom) confirmou, por unanimidade, a decisão esperada de elevar o juro básico em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25%.

No comunicado, os diretores do Banco Central (BC) apontaram "assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação". Em bom português, esperam mais alta nos preços. E reafirmaram que há "maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada".

Alertou para o risco de alta do dólar em relação ao real, que não se confirmou nesta quarta-feira, mas espera na esquina, ao projetar "impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada".

E também pediu pacote logo: "O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária". _

9,92%

foi a alta das ações da Gerdau ontem, tanto com os resultados do terceiro trimestre quanto pela expectativa de aumento de consumo de aço nos EUA, dada a grande produção local da gigante de raiz gaúcha (leia ao lado). De julho a setembro, o grupo siderúrgico teve lucro líquido ajustado de R$ 1,4 bilhão, receita líquida de R$ 17,4 bilhões com vendas físicas de aço de 2,8 milhões de toneladas.

GPS DA ECONOMIA

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