Ex-presidente do Grupo Gerdau e atual presidente do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo (MBC)
"Sem amor, você não faz nada de grandioso"
Uma das principais lideranças do setor industrial no Brasil, Jorge Gerdau decidiu escrever o livro A Busca - Os Aprendizados de uma Jornada de Inquietações e Realizações, que será lançado no dia 27 de novembro pela Editora Citadel.
Por que o senhor foi adiando essa decisão de contar sua história?
Tive muito forte essa pretensão de escrever. Procurei, na minha vida, sempre trabalhar muito e não desenvolver vaidades. Isso vem de uma cultura influenciada pelos meus pais, de não criar falsas vaidades e coisas desse tipo. Então, esse tema da obra sempre me levava um pouco para uma visão de autopromoção e vaidades. E isso não fechava com o meu conceito de condução comportamental. Eu praticamente refuguei a ideia de fazer o livro. Fiquei quase uns 10 anos cozinhando se iria escrevê-lo ou não.
O livro se chama A Busca. O que o senhor busca?
Originalmente, o título seria A Busca da Excelência. Mas esse tema é tremendamente complexo. Na minha formação, no meu processo de trabalho, de vida, sempre busquei muito a excelência. Mas sobre o tema de excelência, se você não cuida, você extrapola para a vaidade. Eu tirei a palavra excelência (do título) porque, na verdade, o tema mais importante é a busca, a inquietação de encontrar caminhos.
No livro, o senhor escolhe 23 palavras que considera fundamentais. Algumas o senhor já citou aqui: humildade, excelência. Das 23, qual é a mais importante?
É a primeira palavra: respeito. Aí novamente tem o fator cultural, norte-europeu. De forma geral, o tema do respeito ao próximo. O respeito em tudo que a gente pratica, né? Se tu puderes praticar com respeito, é mais construtivo, é mais positivo. Seja na convivência com os operários... Aprendemos na nossa vida empresarial, com cultura da família, a respeitar o menor colaborador da mesma forma como se respeita o principal engenheiro. Isso estabelece uma mentalidade de colaboração. A primeira palavra é respeito, a última palavra (da lista) é amor.
Como o senhor está vendo tudo o que vivemos no Rio Grande do Sul recentemente: a tragédia das águas, a dificuldade em reconstruir o Estado? Qual o papel das grandes empresas diante desse cenário?
O tema é assustador. Estou preocupado com o cenário das coisas como estão acontecendo, lógico que aí tem um pouco de cacoete de empresário, viciado em analisar, planejar coisas a médio e longo prazos. Com todas as informações disponíveis, não consegui ainda sentir, na realidade, a dimensão do problema que tivemos, de quanto tempo vai levar, o que falta fazer, principalmente em cidades que praticamente foram arrasadas. Gostaria de poder responder, se vamos precisar de dois, três anos, ou 10 anos. Eu não sei se alguém sabe responder.
Voltando ao livro, é difícil empreender no Brasil. Que sugestão daria a quem deseja ter uma empresa no país?
Eu diria o seguinte. Na minha experiência de negócios, o principal fator é o entendimento ou domínio do core business (o coração do negócio, ramo de atividade). É um tema que, no meu entender, em termos tecnológicos ou acadêmicos, não é suficientemente debatido. Mas o domínio da essência, daquilo que eu vou produzir, é o domínio absoluto. Isso vale para qualquer tipo de atividade. Ela é decisiva para poder construir os passos empresariais.
Quando olha a Gerdau hoje, no século 21, o que tem na empresa que ficou daquela época da fábrica de pregos?
Realmente, o produto pregos sabíamos trabalhar muito bem mercadologicamente. Talvez a maior habilidade tenha sido a estrutura comercial, que nos deu condições de crescer na produção. Hoje, olhando o nosso negócio global, temos três core businesses que orientam o nosso negócio: o suprimento da matéria-prima de seu capital, como organização, cultura, logística. Segundo, o domínio total das tecnologias de produção, com equipamentos melhores do mundo. E a terceira é comercialização, que nós trabalhamos com 120 mil clientes. Então, são três atividades com absoluto domínio de conhecimento acumulado, e que se passa de geração a geração.
Falando sobre a sua vida fora da empresa. Eu sei que o senhor gosta muito de cavalos e esporte. O que o senhor aprendeu com os cavalos?
O cavalo aprimora aquilo que tem de se procurar na busca por conhecimento. Na educação do cavalo, é como uma criança no colégio. Começa com uma doma, sem brutalidade. Se você faz doma sem brutalidade, o cavalo confia em você. É uma relação de diálogo, cavalo-cavaleiro, extremamente importante. Como é que eu construo esse diálogo com o cavalo? Como qualquer diálogo. A gente trabalha com os dedos e as rédeas, o contato na boca, a espora e a perna. E como se trabalha isso? É um diálogo que se tem de ter com o cavalo. Os melhores cavaleiros são os que melhor dialogam com o cavalo.
E a palavra sustentabilidade, o que diz ao senhor?
Adoro a palavra sustentabilidade. Porque a palavra, sozinha, nos aproxima desse processo absoluto comportamental, que você tem de dar para as coisas se sustentarem. Então, a palavra sustentabilidade, para mim, é 10 vezes melhor do que qualquer outra explicação. Porque eu, sem a sustentação desses três fatores (ambiental, social e econômico), não consigo prosperar. A sustentabilidade do ambiental com o social e o econômico é que faz o processo funcionar.
E o amor?
Tenho uma palavra-chave em relação a isso. Sem amor, você não faz nada de grandioso. Essa conjugação emocional, de fazer as coisas com amor, é o mais importante que existe. Tendo o amor na construção das coisas, elas não têm mais limites. O amor é uma peça absolutamente vital na condução do nosso comportamento.
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