Solução para as hidrovias
A falta de dragagem adequada e constante dos acessos a portos e hidrovias no Estado é uma queixa que se arrasta ao longo dos anos sem uma resposta apropriada. Empresas que utilizam o transporte hidroviário interior e suas entidades reclamam que a manutenção inapropriada tira o potencial do modal. A situação insatisfatória piorou com as enchentes severas que atingiram o Rio Grande do Sul, em especial a de maio deste ano. Um grande volume de sedimentos carregados pelas águas ficou depositado no fundo dos canais, limitando ou inviabilizando a navegação. Quando um problema chega ao seu ápice, não há alternativa a não ser enfrentá-lo de forma resoluta.
O encalhe de dois navios em um intervalo de duas semanas no canal de Itapuã, que liga a Lagoa dos Patos ao Guaíba, é o sinal inequívoco de que é preciso agir rapidamente. Uma embarcação trazia cevada cervejeira para o porto da Capital e o outro carregava insumos para a produção de fertilizantes. Como reação, foi anunciado que a Portos RS, empresa pública do Estado, vai aplicar R$ 10 milhões para uma dragagem emergencial no local. O governo promete o início da operação até o final do mês. Aguarda-se o cumprimento do prazo.
Mas as dificuldades, como dito antes, são antigas. Na edição da última quarta-feira de Zero Hora, a colunista de agronegócio Gisele Loeblein trouxe a informação impactante de que, entre 2022 e 2023, mais de cem navios desistiram de operar no Porto de Porto Alegre devido aos riscos para a navegação. A dragagem do Guaíba é reivindicada há mais de dois anos pela Hidrovias RS, entidade que reúne companhias e setores usuários do modal. Além disso, embarcações que seguiam fazendo o transporte não conseguiam trabalhar com carga plena.
É uma situação que onera as empresas que utilizam o transporte hidroviário e, por consequência, mina a competitividade da economia do Rio Grande do Sul. Lembra o caso do aeroporto Salgado Filho antes da ampliação de pista de pousos e decolagens, quando aviões maiores não conseguiam utilizar toda a capacidade de carga. Muitas mercadorias, ao fim, têm de ser transportadas por estradas já abarrotadas de veículos pesados, o que também prejudica a segurança no trânsito. As rodovias utilizadas são a BR-116 e um ponto da BR-392, entre a zona sul do Estado e a Região Metropolitana, trechos famosos pelo pedágio mais caro entre as vias federais do país.
A solução esperada para as hidrovias, portanto, tem de ser estrutural. Não com dragagens emergenciais, mas por manutenção constante. No último dia 7, o comitê do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs) aprovou a liberação de R$ 731 milhões para serviços como batimetrias e dragagem. As ações são previstas para cerca de 320 quilômetros de hidrovias interiores e mais 40 quilômetros de canais próximos ao Porto de Rio Grande.
Vários trechos navegáveis de rios como o Jacuí, Sinos, Caí, Gravataí e o canal de São Gonçalo também devem ser beneficiados. As hidrovias gaúchas são importantes vias de escoamento de fertilizantes, grãos, petroquímicos e celulose, entre outros produtos. Será fundamental que, nos anos seguintes, exista um trabalho permanente de preservação das plenas condições de navegabilidade. A competitividade passa por uma melhor infraestrutura de transporte, que diminua os altos custos logísticos do Rio Grande do Sul.
A competitividade passa por uma melhor infraestrutura de transporte, que diminua os altos custos logísticos do RS
OPINIÃO RBS
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